A responsável pelo serviço de luta anti-tuberculose da Guarda revelou, na segunda-feira, que no distrito, entre 2000 e 2008, foram diagnosticados 349 casos. Dulce Quadrado sublinhou, no entanto, que neste período «houve um decréscimo mais ou menos contínuo» da incidência da doença. A médica falava na conferência “Um flagelo oculto – a tuberculose”, promovida no TMG por cinco alunas do 12.º ano da Escola Secundária Afonso de Albuquerque, no âmbito de um projecto escolar.
Para além da especialista, a sessão contou com a participação do ex-Presidente da República e actual enviado especial das Nações Unidas para a luta contra a tuberculose. Jorge Sampaio aproveitou a ocasião para sublinhar que «os tempos difíceis de crise que atravessamos são particularmente propícios ao desenvolvimento dos bacilos da tuberculose, mas são também propícios ao desenvolvimento de reflexos discriminatórios». Nesse sentido, o enviado especial da ONU alertou para o facto das pessoas deverem «conhecer para não descriminar», sendo que os portugueses devem permanecer «particularmente atentos e vigilantes em relação às situações de risco, mas também em relação às pessoas socialmente marginalizadas ou vulneráveis». Jorge Sampaio referiu ainda que, «sendo uma doença que pode existir no nosso sistema, o agravamento de certos aspectos ambientais e de alimentação, diminuem os sistemas de resistência e pode irromper».
Sem querer «dramatizar», acrescentou que «a tuberculose voltou» e que, em Portugal, tem havido «uma boa luta no sentido da sua diminuição lenta, mas continua a haver pólos de tuberculose no nosso país que merecem a nossa atenção». O ex-chefe de Estado alertou depois que, a nível mundial, «muitos biliões de pessoas têm o bacilo, mas não se revela até à morte porque não houve nenhuma causa que fizesse diminuir as defesas do próprio organismo». O convidado central da conferência enalteceu a iniciativa, referindo que «afinal, há actividade no denominado “interior longínquo”» e que «se houver famílias, professores e estudantes dedicados, muita coisa se pode fazer e este exemplo foi um serviço muito grande prestado ao país». Na mesma sessão intervieram também o médico pneumologista José Cunha, que falou dos 102 anos de história do Sanatório Sousa Martins, e a enfermeira do Centro de Apoio à Toxicodependência, Margarida Pereira, a propósito da “Tuberculose, SIDA e Toxicodependência”. Por sua vez, Joaquim Valente, presidente da Câmara da Guarda, aproveitou a sessão para manifestar o empenho da autarquia em fazer da cidade «uma referência no ensino e na saúde».
Rafael Mangana