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Centro histórico «em risco de colapso»

Desertificação e fracas acessibilidades podem gerar tragédia em caso de incêndio

O centro histórico da Guarda está «em risco de colapso e ruína total». O alerta é de Granja de Sousa, coordenador do Serviço Municipal de Protecção Civil. Quase três semanas depois do incêndio na Avenida da Liberdade, em Lisboa, um olhar profundo sobre o coração da cidade mais alta revela muitas fragilidades. O abandono a que alguns imóveis têm sido votados, a dificuldade de acesso a vários locais da zona mais antiga e a natureza dos próprios edifícios são os factores de maior risco.

Luís Santos, comandante dos Bombeiros Voluntários da Guarda, confirma que há «dificuldades em chegar a alguns locais com os meios necessários». Há ainda a degradação evidente em muitos edifícios: «O risco existe tanto na cidade como nas aldeias, onde há muitas casas a cair. Há verdadeiros matagais dentro de alguns imóveis no centro da cidade». Mesmo assim, o responsável dos “soldados da paz” não esquece a mão humana. «Os fogos não nascem sozinhos: há cargas eléctricas que, às vezes, são metidas “sem justificação”… A Guarda também pode ser alvo disso», alerta Luís Santos.

Os focos mais sensíveis localizam-se na zona antiga e envelhecida da Guarda, nomeadamente na mancha urbanística de S. Vicente. O pior receio prende-se com o facto das casas estarem confinadas e ligadas pela própria cobertura: «A nossa maior preocupação é que o incêndio passe muito depressa de uns edifícios para os outros, acelerado pelas madeiras e pelos vernizes», refere Granja de Sousa.

O coordenador do Serviço Municipal de Protecção Civil acrescenta que, nos últimos anos, o centro histórico tem sofrido «uma diminuição muito grande» de habitantes. Perante este cenário, e confrontado com o risco de incêndio e as suas consequências numa área tão problemática, Granja de Sousa é tranquilizador, dizendo que o Plano Municipal existe para salvaguardar estes incidentes. «O centro histórico tem um plano de intervenção», garante, acrescentando que a Câmara está a monitorizar estruturas como os próprios edifícios, bocas de incêndio, iluminação e acessibilidades. Para além disso, são recolhidas informações assim que as habitações vão vagando e esses edifícios são isolados nas janelas e portas, pois «o plano é de prevenção», justifica Granja de Sousa. Na calha está também um novo levantamento por parte da Câmara da Guarda, afim de actualizar os riscos de ruína.

Na sua opinião, a solução está na reabilitação do centro histórico, embora a conjuntura não seja favorável. Contudo, os jovens encontram habitações degradadas, de difícil acesso e sem estacionamento. Por outro lado, os actuais proprietários não vislumbram retorno nos custos avultados que envolve a requalificação dos edifícios. Granja de Sousa espera que o exemplo de Salamanca, aqui ao lado, possa ser aplicado na Guarda: «A autarquia pode adquirir os edifícios e chamar para lá as pessoas, sobretudo os mais novos. É um processo que demora algum tempo mas tem retorno. Em Salamanca, a zona histórica já é a mais cara da cidade», exemplifica.

Igor de Sousa Costa

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