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Centenas de crianças invadem hoje Vila Soeiro

“Aula viva” para os 250 alunos do agrupamento de Escolas de S. Miguel-Guarda decorre durante todo o dia

A três dias para a inédita “aula viva”, que vai levar 250 alunos até Vila Soeiro, sentia-se uma grande expectativa entre a meia centena de habitantes. «As crianças trazem sempre alegria e vida à aldeia», garante José Gonçalves, habitante de Vila Soeiro, que está à espera de «um dia diferente e com muita algazarra». Numa aldeia onde só residem duas crianças (estrangeiras) e o silêncio predomina, «é bom haver iniciativas do género», acrescenta. Um opinião partilhada por Manuel Amaral, de 71 anos, que participou na reunião em que foi apresentado o projecto. E logo que ouviu falar em crianças concordou de imediato com a iniciativa. «Também, que prejuízos pode trazer esta actividade?», lança o habitante.

Por isso está pronto para ajudar «no que for preciso» e garante que «até sabe bem ensinar algo aos mais pequenos» para quem passou uma vida inteira a trabalhar no campo. Uma coisa é certa. Toda a aldeia está empenhada em ajudar. «A parte de cozer o pão no forno é com as mulheres, mas no resto vou ajudar em tudo», promete Manuel Amaral. E a sua colaboração bem que vai ser precisa. Hoje, os alunos do 6º ano de escolaridade da EB 2, 3 de S. Miguel e os seus colegas das escolas do 1º ciclo de Cavadoude, Aldeia Viçosa, Porto da Carne, Faia e Vila Cortês vão ter uma aula diferente. As crianças são transportadas para Vila Soeiro em autocarro, organizadas em equipas, identificadas por cores, e instruídas nas regras de participação. «Cada aluno tem um código e quando lá chegarem dirigem-se para as suas bandeirolas», explica Joaquim Pereira, um dos professores envolvidos na organização. A actividade terá início cerca das 10 horas. Ao chefe de equipa, escolhido democraticamente, será entregue um mapa da aldeia com a ordem do percurso e um diário de bordo. E também sacos ecológicos para recolherem todo o lixo que encontrarem, pois vão ter uma pontuação consoante a quantidade de lixo que conseguirem acumular ao longo das actividades.

Para o efeito foi construído um ecoponto com uma grua para, no final, pesar o lixo que chega devidamente separado. «Para além da componente educativa, esta actividade permite também limpar a aldeia», frisa o professor. «Todos vão ganhar! O prémio é a experiência neste projecto inédito», acrescenta. De resto, o projecto “Viver a aldeia em Vila Soeiro”, do agrupamento de Escolas de S. Miguel-Guarda, pretende criar laços fortes entre a realidade urbana e rural na sua área de influência. Assim nasceu a ideia de ensinar aos mais pequenos os hábitos e os costumes do meio rural. A actividade envolve cerca de 300 participantes, entre professores, habitantes da aldeia e crianças.

A brincar, a brincar

À hora prevista, as equipas iniciam a actividade que será constituída por doze estações dispersas pela aldeia e orientadas por professores e habitantes, que desempenharão funções de demonstradores e controladores. Cada equipa dispõe de um máximo de oito minutos para cumprir as tarefas de cada estação, obtendo uma pontuação de acordo com o desempenho. No tanque da aldeia os alunos vão ter que pescar o maior número de peixes, feitos de madeira pelos próprios, nas aulas de Educação Visual e Tecnológica. Todos equipados a rigor, com coletes de segurança e vigiados por um nadador salvador. Na eira os miúdos vão malhar o cereal com os utensílios tradicionais. Já no forno comunitário as crianças aprenderão a fintar a massa, a cozer o pão e os biscoitos tradicionais, graças à sabedoria das gentes de Vila Soeiro. «E mais tarde vão poder provar o que fizeram», indica Joaquim Pereira. Num largo da aldeia há jogos tradicionais, onde os mais velhos vão ensinar aos mais novos como se brincava antigamente. Noutro canto de Vila Soeiro, os miúdos vão ser artistas por alguns minutos. Enquanto outros irão socorrer-se da sua memória visual para construir um puzzle com imagens da aldeia.

Mas há mais. Com base num jogo tradicional chinês, chamado Tangram, eles vão ter igualmente que construir imagens tiradas à sorte. E através de um geoplano vão medir as áreas do ponto de vista do contexto. Noutro largo da aldeia está montado um tradicional arraial beirão, decorado com bandeirinhas coloridas, com muita música popular. Nesta estação cada equipa vai ter que vestir o traje do rancho folclórico e entoar a música que lhes tocar. Na antiga escola primária estão instalados seis computadores para os miúdos pesquisarem na Internet sobre ervas e plantas medicinais, para depois colocarem as etiquetas nos vasos correctos. Já nas “gravuras”, outra das estações, as crianças vão gravar em gesso alguns pormenores arquitectónicos de Vila Soeiro. No espaço dedicado ao artesanato há uma mostra artesanal e todos vão fazer um trabalho de cestaria. Por fim, há uma verdadeira caça ao tesouro no pinhal. Através de pistas, vão procurar a chave certa para abrir a caixa do tesouro, que tem lá dentro moedas de chocolate, «para adoçar os vencedores», ironiza o professor. O almoço será disponibilizado na sexta estação do circuito personalizado para cada equipa, sendo da responsabilidade do grupo de estagiários de Nutrição do Instituto Jean Piaget (Viseu), actualmente em formação no agrupamento. «É uma ementa natural e equilibrada», assegura o responsável. O projecto “Viver a aldeia em Vila Soeiro” contou com o apoio de várias instituições e empresas da Guarda.

Patrícia Correia

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