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Cenário

Bilhete Postal

O meu porta-moedas está vazio. Nesta rua todos os dias me davam moedas. A rua agora tem menos gente. As pessoas são menos e mais fortuitas, mais apressadas, menos dadas. Eu tocava umas canções e fui alargando a oferta. Ofereço mais, mas recebo quase nada. A rua tinha lojas e elas foram fechando. Há dias tinha fome e por isso assaltei uma pessoa que passava. Éramos só os dois. Não lhe fiz mal. Ela, assustada, abriu a mala e não tinha lá nada. Mudei de rua. Vieram polícias e afastaram-me. É uma zona fechada. Fiquei à porta mas ali só entram e saem de carro. Não como há dois dias e por isso entrei pelo carro de um e ameacei-o com uma faca. Este tinha dinheiro. Posso viver seis dias com esta carteira. A rua em agosto esteve cheia. Volto para a mesma do inverno passado. Talvez não passe a mulher que tentei roubar. Desde que chove que não vem ninguém. Parece que este inverno levou as pessoas que me davam moedas. Menos gente, menos lojas. As pessoas têm medo de mim agora. Somos poucos, não há comércio, não há transeuntes. Estou no seu caminho e não estou com bom aspeto. Ontem, fui preso pela primeira vez. Deram-me de comer e tomei banho. Nunca imaginei que ser detido pudesse ter vantagens. Não sei que faça para ficar. Contei que roubei o carro e a velha na rua. Hoje não passo fome.

Por: Diogo Cabrita

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