Arquivo

CEI passa a Centro de Estudos Ibéricos Oliveira Martins e Miguel de Unamuno

Eduardo Lourenço lançou desafio para a alteração do nome do organismo, cuja sede foi inaugurada no último sábado

Centro de Estudos Ibéricos Oliveira Martins e Miguel de Unamuno. Esta deverá ser a nova designação do CEI, cuja sede foi inaugurada no último sábado, numa cerimónia que contou com a presença da ministra da Cultura e do secretário de Estado das Universidades de Espanha. Para além do repto lançado por Eduardo Lourenço para a alteração do nome, a ocasião ficou ainda marcada pela sugestão de vários oradores para que a estrutura, sediada no Solar do Alarcão, alargue a sua área de intervenção a novos temas.

Fortemente elogiado pelas diversas personalidades presentes, Eduardo Lourenço realçou que Oliveira Martins e Miguel de Unamuno são «dois grandes vultos da cultura da Península Ibérica», pelo que «ficaria bem» que os seus nomes passassem a figurar na designação oficial do Centro. «Oliveira Martins é o nosso grande historiador do século XIX, o primeiro homem que pensou a História de Portugal de uma maneira problemática», enquanto a geração seguinte, de Miguel de Unamuno, «teve os mesmos problemas porque se deu entretanto o desastre de Cuba e o fim do Império Espanhol», salienta. Sobre o facto do CEI ser hoje uma estrutura consolidada, o director honorífico da instituição que, nas celebrações do VIII Centenário da Guarda, em 1999, sugeriu a criação de uma estrutura que reunisse pensadores dos dois lados da fronteira, mostrou-se bastante satisfeito: «Quando a gente vê um pequeno sonho bonitamente materializado, como é este Centro, é uma ocasião de contentamento porque é, de facto, uma coisa importante para a Guarda e para a sua dinâmica cultural», sublinha o pensador.

Para o futuro, o ensaísta natural de São Pedro de Rio Seco (Almeida) ambiciona que a acção do CEI não se limite «nem à fronteira, nem sequer às nossas relações com Espanha», mas que se seja antes reconhecido «daqui à Austrália ou à América do Sul», já que tem «todas as qualidades para se tornar um centro de nomeada», considera. Por sua vez, a ministra da Cultura considerou a inauguração «um momento de pleno significado, não só para a Guarda, mas para todos os habitantes do espaço ibérico». Isabel Pires de Lima sublinhou que o CEI é «um exemplo vivo e bem sucedido» de que uma cidade do interior «não tem que ser sinónimo de resignação». Por último, a governante realçou que, «em breve», a Biblioteca Eduardo Lourenço irá aprofundar «ainda mais» o intercâmbio entre as Universidades de Coimbra e Salamanca, bem como o IPG, no quadro de um «louvável projecto que visa a criação de uma Rede Transfronteiriça de Bibliotecas». Recorde-se que a sede do CEI entra em funcionamento quatro anos após a sua constituição oficial. Entretanto, na véspera da inauguração, foi lançado o primeiro número da revista “Iberografias”, que engloba textos de autores portugueses e espanhóis que participaram em diversas conferências promovidas pelo CEI.

CEI tem de deixar de estar «virado para si próprio»

Apesar de realçar que o CEI é hoje uma «importante realidade», o presidente do Instituto Politécnico da Guarda adoptou um tom crítico no seu discurso e mostrou-se descontente com o facto do IPG não ter integrado o projecto desde o início. «Pena foi que o IPG tenha ficado de fora como membro fundador. É uma mágoa que ficou e a instituição não esquece isso. Agora, a partir do momento em que entrámos, temos colaborado dentro do que nos tem sido solicitado em todas as actividades», assevera. Por outro lado, Jorge Mendes alerta que o CEI tem que «abrir-se definitivamente a novos investigadores e deixar de estar virado para si próprio, em torno de poucas pessoas e poucas instituições», diz, lançando o repto para a abertura do centro a áreas como a Economia, Gestão ou Turismo. A mesma ideia defendeu o reitor da Universidade de Salamanca, Enrique Battaner, que falou da necessidade de uma «presença muito maior das novas tecnologias e ciências experimentais». Confrontado com estas propostas, Eduardo Lourenço mostrou-se receptivo, mas frisou que a ideia que presidiu à fundação do CEI tem que permanecer intacta. «O Centro de Estudos Ibéricos pode fazer tudo, mas a vocação inicial – de se preocupar sobretudo com a questão da relação Portugal-Espanha – é que nunca pode ser esquecida. Se não passa a ser outra coisa, como um centro de viagens à lua», ironiza.

Ricardo Cordeiro

Sobre o autor

Leave a Reply