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CCBI forma pequenos realizadores

Cinescola promove há três anos hábitos cinematográficos nos mais jovens

«Era uma vez uma rã…”. Começa assim o filme de animação “A Rã e o Caracol” realizado pelos alunos do 4º ano, da sala nº 3, da Escola E/B1 do Teixoso, na Covilhã, no âmbito do Cinescola, uma iniciativa promovida pelo Cine Clube da Beira Interior (CCBI). Nelson Fernandes e Rodolfo Pimenta – colaboradores do CCBI – tentam fazer com que 19 crianças, de 9 e 10 anos de idade, percebam «minimamente» como funciona o cinema de animação, explica Nelson Fernandes, aliás o realizador Zina Caramelo.

O primeiro passo para que possam entender de forma simples o processo de realização é falar da pré-história do cinema, ou seja, «quando apareceram os desenhos animados, os primeiros brinquedos ópticos», conta o formador. Depois, cabe-lhes construir um «pequeno brinquedo» e visionar alguns filmes de animação produzidos por crianças da mesma idade e alguns profissionais para elaborarem de seguida uma pequena história, criando o “storyboard” (descrição desenhada das cenas), cenários, personagens e genéricos adequados que serão depois introduzidos no ecrã através de um “lunch box” – equipamento destinado à realização de trabalhos em animação que permite colocar 25 “frames” num segundo – e de uma câmara de filmar. Um processo fácil à primeira vista mas que é «muito complicado», garante o jovem José Gonçalves, pois «tem que se ter muitas máquinas e fazer muitos desenhos». Opinião diferente tem a colega Rute Ferreira, para quem basta «uma composição e desenhos» para fazer um filme. Seja como for, o certo é que a criação do movimento captou a atenção e a motivação das crianças nos três dias de formação. Um tempo «muito curto» para concluir todo o filme, mas que serve pelo menos para os aprendizes de realizadores terem uma «pequena ideia de como as coisas funcionam», sublinha Nelson Fernandes. Até porque esta actividade «ajuda-os a perceber o funcionamento dos trabalhos de grupo, aquilo que vêem na televisão, o cinema de animação e até a melhorar a expressão plástica e o português». Sem falar, claro, na «sensibilização» cinematográfica que passam a ter com este atelier, salienta o jovem realizador/formador.

A criação de hábitos cinematográficos nas camadas mais jovens foi o objectivo central desta iniciativa pioneira do CCBI na região. A funcionar há três anos, Nelson Fernandes faz um balanço «muito positivo» do projecto, embora considere que é preciso «mais tempo» para o “workshop”, actualmente de 16 horas. «O fundamental é que as crianças vejam finalizado o que estiveram a trabalhar, o que não aconteceu. Viram o genérico e pouco mais», lamenta Rodolfo Pimenta. O projecto está a terminar no Teixoso, após ter passado pelas escolas de Vale Formoso, Atalaia/Terlamonte, Canhoso, Covilhã e Fundão. Ao que tudo indica, Nelson Fernandes e Rodolfo Pimenta passarão em breve a desenvolver o Cinescola em algumas escolas fundanenses, sendo certo que a iniciativa vai voltar à Covilhã no próximo ano, «desde que as escolas mostrem interesse», salienta Frederico Lopes, presidente do CCBI. Como só tem o apoio do ICAM e do Ministério da Cultura, a iniciativa só sobreviverá se as escolas da região estiverem receptivas a disponibilizar pelo menos três dias em cada sala de aula. Um pressuposto que nem sempre é aceite devido aos «conteúdos programáticos». Esta é a queixa da professora Dulce Martins, que, apesar de louvar a iniciativa e achá-la «essencial» para a formação das crianças, considera que prejudica a leccionação das matérias escolares. «Acho que deveria haver mais projectos destes, mas devem ser propostos no princípio ou no final do ano lectivo, que é para englobar a actividade quando estivermos a fazer a nossa programação», sublinha, sendo que para tal os «programas também têm que ser reduzidos».

Liliana Correia

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