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Cavaquices

Agora Digo Eu

Quando, em 1987, a rainha do porno, Iiona Staller, conhecida no meio artístico por Cicciolina e grande protagonista de uma banana com chocolate foi eleita deputada para o respeitado Parlamento italiano, pensei ter visto tudo o que é possível em política. Anos mais tarde dou por mim a olhar para um Berlusconi, para presentemente perceber que até um Grillo falante consegue um quarto dos votos dos italianos, numa visível palhaçada de provocação, circo e aldrabice. Vem isto a propósito dos acontecimentos ocorridos aquando das comemorações do 25 de Abril da passada semana na Assembleia da República. Cavaco, PR, eleito com 2 milhões e 200 mil votos, ou seja com pouco mais de metade dos eleitores que exprimiram validamente o seu voto, fez jus a si mesmo, assumindo que apenas representa cerca de um quarto da população que nele votou. Mas isto não espanta.

Quem não se lembra da noite de 23 de janeiro de 2011 e a atitude estúpida, rançosa e rancorosa que teve para com os adversários. E nesta viagem de Estado à Colômbia, onde, na abertura da Feira Internacional do Livro, em Bogotá, e depois de escutar as palavras do Presidente Juan Manuel Santos “Vamos lançar um livro inédito de Saramago” omitiu deliberadamente o nome do Nobel da Literatura. E puxando um pouco mais pela memória recordo as celebres declarações do Presidente Checo, Vaklav Klauss, aconselhando o seu congénere português a esconder o défice nacional ao que Cavaco fez ouvidos de mercador. E as escutas. E a reforma que não chega. E… Afinal, não foi este político que está no poder, já lá vão mais de 18 anos, a que o seu ex-ministro, Miguel Cadilhe, alcunhou de “Pai do Monstro”, que criou decretos para vender tempo de serviço tendo por finalidade ir mais cedo para a reforma. Não foi ele que passou as despesas de saúde de 3,8% do PIB para 4,3%. As despesas de educação de 3,7% para 5,1%. As despesas de Estado de 8,7% do PIB para 13,2%. Estes números estão bem espelhados no livro “Política Económica”, de Eduardo Catroga, chegando-se facilmente à conclusão que Cavaco foi o 1º ministro que em 10 anos de governação aplicou o modelo Leviatrão, aquele que mais aumentou a despesa pública, entregando ao Deus dará a indústria e a agricultura em troca de fundos comunitários, contestando a Sorefame, a Lisnave, a Siderurgia e apostando na privatização, sem qualquer regulamentação da banca, o que levou ao endividamento e a atos de corrupção por parte dos banqueiros, (alguns seus amigos e correligionários) culminando isto nos BPN’s, BPP’s de que todos estamos a pagar as favas com língua de 7 palmos.

Ouvi o discurso de Cavaco no último 25 de Abril. Fiquei incrédulo e boquiaberto. A indignação foi tanta que até os cravos da mesa da Assembleia se manifestaram ao verem cinicamente Passos Coelho com a flor da Revolução na lapela. Aí veio-me imediatamente à memória o poema de José Barata Moura “Cravo vermelho ao peito a todos fica bem, sobretudo faz jeito a certos filhos da mãe”.

Dos 19 PR’s, desta centenária República, Américo Deus Rodrigues Tomás, foi o único a assumir integralmente o papel de pião de brega do regime. Talvez a História goste mesmo de se repetir e Cavaco com o seu deplorável exemplo de seguidismo (que jeitão deu ao PS e à unidade faz de conta saída do Congresso) tornou-se numa fotocópia em tudo idêntica a um (quase) Américo Tomás do século XXI. A partir do meio-dia de 25 de Abril de 2013, o atual habitante do palácio pink não é mais o Presidente da República de todos os Portugueses. Com o comportamento que tem vindo a adotar, vai permitindo que se façam leituras. Infelizmente, desta vez passou as marcas, tendo (apenas) um único aspeto positivo. Deixou de ser o Presidente faz e conta e resolveu assumir.

Por: Albino Bárbara

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