Um homem não se impõem pela tirania. Um homem discute, ouve, tolera e tenta perceber. Um Senhor respeita-se pela eloquência, pela veracidade, por sentirmos que é genuíno. Um Cavalheiro não precisa apagar ninguém, não necessita do trabalho alheio: faz, determina, ajuda, ensina, ampara. E são estes Homens Cavalheiros e Senhores que ultimamente me têm faltado. Lembrei os vários que conheci. Recordei os que me formaram como pessoa, enchi o peito dos nomes de gente que me foi agradável, que me permitiu crescer. Dois eram da Guarda e encontravam-se aos fins de tarde no Hotel Turismo. Ambos tinham sido Governadores Civis e ilustres cidadãos. João Gomes e Augusto César de Carvalho eram de quadrantes diferentes, mas estimavam-se muito. Encontravam-se em 1999, quase todos os fins de tarde, desfiando os seus 80 e tantos anos. Um bar de Hotel, uns cadeirões de pele castanha, um barman de cabeça pousada nas mãos porque não havia mais ninguém. Esgrimiam críticas, entre um cerrar de olhos e um sorriso carregado de história. Falavam dos cães, da política, da Guarda. Tive o privilégio de me esgueirar entre a tertúlia. O meu pai conhecera e estimara Augusto César de Carvalho, com quem partilhámos conversas longas nas areias de Isla Canela. João Gomes chegou-me pela mão de Augusto César de Carvalho quando me descobriu na Guarda. Todos eles partiram já e levaram esta cultura do Homem do Senhor e do Cavalheiro. Todos eles me educaram, questionaram e aconselharam num percurso que mantenho rebelde e difícil. “Este parte, aquele parte, e todos se vão…”
Por: Diogo Cabrita
