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Castro histórico do Jarmelo pode vir a ser recuperado

O trabalho de campo já terminou, resta apenas acabar o relatório e submetê-lo ao IPA e ao IPPAR

O Jarmelo pode finalmente vir a ser um pólo turístico de reconhecido valor no concelho da Guarda. A terra tornada famosa pela tragédia medieval dos amores de Pedro e Inês está prestes a dispor de um plano de recuperação para toda a área histórico-arqueológica, cujo castro e envolvente foi classificado em 1953 como Imóvel de Interesse Público.

Embora o projecto ainda esteja numa fase muito embrionária, “O Interior” sabe que uma equipa chefiada pelo arqueólogo municipal já esteve a fazer trabalhos de investigação no local e as suas conclusões serão decisivas para que o processo avance. Assim espera Vítor Pereira, responsável por esse conjunto de investigações e pela elaboração do relatório que «brevemente» será enviado para os Institutos Portugueses de Arqueologia (IPA) – a quem compete a aprovação – e do Património Arquitectónico (IPPAR) – de quem se espera um parecer. Foi este arqueólogo da Câmara da Guarda que fez o «último» pedido de autorização ao IPA para escavações e investigações, revela Carlos Banha, responsável pela delegação da Covilhã, com a finalidade de fazer um trabalho de levantamento «enquadrado pelo IPA». Banha entende que o Jarmelo «não está abandonado», apenas ainda não tem um projecto arqueológico em curso, cujo sucesso dependerá, diz, da «vontade do investigador» e do «empenho da autarquia».

Da parte da Câmara Municipal existe, desde já, a certeza de que se trata de um projecto estratégico quer para o monte jarmelista, quer para o próprio concelho da Guarda. Embora confirme que existe somente um esboço do que se pretende fazer no Jarmelo, António Patrício, responsável pelo gabinete das Obras Municipais, garante a “O Interior” que «toda a Câmara reconhece que é preciso um projecto de recuperação de toda aquela zona».

No entanto, Vítor Pereira entende que antes de se fazer a prospecção de estações arqueológicas «é preciso ver o que existe» e fazer a cronologia do povoado, uma vez que existem elementos que revelam tratar-se de uma época medieval, mas também têm sido encontrados outros vestígios que se referem a períodos anteriores e «bem anteriores». O arqueólogo explica que foi feito um levantamento «exaustivo» do local com delimitação dos vários imóveis, um levantamento topográfico e uma prospecção da zona envolvente. «O que fizemos foi conhecer o que existe, verificar no povoado o que se passa», completa Pereira, adiantando que também foram realizadas várias sondagens de impacte ambiental nas proximidades do povoado, onde descobriram «diversos» materiais que indicam que a povoação «não existiu só no castro mas ao redor dele, mais abaixo, ao longo dos batentes», explica o arqueólogo, acrescentando que pelo menos o levantamento topográfico já permite ter uma base para a localização do que existe.

Junta quer título de Aldeia Histórica

O trabalho de campo já está pronto, resta apenas terminar o relatório e enviá-lo para aprovação do IPA e o parecer do IPPAR, por se tratar de uma área classificada, cabendo por fim ao município viabilizar o projecto. «Só depois é que podemos delinear um projecto a sério, antes precisamos conhecer bem no que estamos a mexer», refere o arqueólogo, adiantando ainda que existem «vários» estudos para «vários» sítios, mas «temos que ver o que temos e no que vamos mexer». À espera desse projecto está a Junta de Freguesia do Jarmelo, já cansada de pedir melhores condições para aquele monte histórico. Segundo “O Interior” apurou junto de fonte da Junta, «há mais de seis ou sete anos» foi apresentado um plano de projecto para a recuperação e restauração da parte histórica, mas a Câmara da Guarda terá dito que o parecer favorável tinha que ser dado por uma técnica florestal. «Nunca recebemos até hoje qualquer resposta desse plano, não sabemos se foi aprovado ou se chegou mesmo a ser apresentado», lamenta a mesma fonte, para quem o Jarmelo «tinha todas as condições para ser uma Aldeia Histórica, muito mais que outras que por aí andam». «A Guarda é o único concelho que não tem uma Aldeia Histórica», confere a mesma fonte, afirmando que não é só a história de Pedro e Inês que está em causa, há também outras potencialidades como a vaca e a cabra jarmelistas. «Mas para quê estarem a chatear-se com um monte de pedras e com a história se nem sequer temos saneamento nem ruas pavimentadas?», pergunta, por sua vez, um habitante de São Pedro do Jarmelo. Recorde-se que em Junho de 2000, o lugar de São Pedro do Jarmelo, fantasmagórica sede de freguesia, recebeu alguns estudiosos da história local que, numa conferência inédita sobre as origens daquela terra, unanimemente admitiram que o monte do Jarmelo reúne condições únicas para um regenerador aproveitamento turístico. Todavia, passados três anos, nada ainda passou de meras palavras deitadas ao vento naquele monte histórico.

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