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Castanheira recusa ceder arte sacra para exposição

Populares ficaram “escaldados” com troca da imagem de Nossa Senhora do Resgate

“A união faz a força”. O conhecido ditado popular aplica-se que nem uma luva a uma situação ocorrida recentemente na freguesia da Castanheira, no concelho da Guarda. Muitos habitantes da aldeia não permitiram que duas pinturas, que fazem parte da Igreja Matriz da localidade, pudessem ser apreciadas na exposição que assinala o Vº Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, a decorrer desde o início deste mês na Cordoaria Nacional, em Lisboa. Tudo porque o povo temeu que se repetisse a situação de há uns anos atrás, quando a imagem de Nossa Senhora do Resgate foi alegadamente trocada por uma réplica após ter deixado a paróquia para restauro.

Perante a atitude da população, as duas portas do altar principal da Igreja da Castanheira que contêm pinturas de S. Francisco Xavier e de Santo Inácio de Loyola, que iriam representar a Diocese da Guarda na exposição do Vº Centenário do Nascimento do Apóstolo das Índias, só poderão mesmo ser vistas “in loco” na aldeia. «Eu e o povo quase todo mostrou-se contra a ida das portas para Lisboa porque tínhamos medo que a história se repetisse e que nos mandassem outras», explica Maria Rosa Pires, habitante da Castanheira. É que «há 16 ou 17 anos que levaram a imagem de Nossa Senhora do Resgate, que era muito pesada, para arranjar e trouxeram-nos outra», indica. Na altura, quando deram pela mudança, ninguém se queixou e a paróquia ficou «sem uma peça de grande valor, como estas que agora queriam levar», garante. Também Teresa Dinis, outra moradora da aldeia, se mostra totalmente contra a cedência das pinturas para a importante exposição que está a decorrer em Lisboa, já que «não tem jeito nenhum deixarmos levar o que é antigo para depois nos trazerem uma coisa sem o mesmo valor», acusa.

Numa reunião com o presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra da Guarda, onde foi solicitado o empréstimo destas obras de arte, a «maior parte do povo levantou o braço» em sinal de desacordo, garantem. «É só por esse medo de nos trocarem as pinturas que não concordamos. Não é por mais nada», asseveram as duas habitantes. Outro morador, que preferiu não ser identificado, contou igualmente que «o povo quase todo esteve contra», desafiando quem quiser ver as portas para que venha vê-las à aldeia. «Daqui não saem», reforça. Da mesma forma, uma habitante mais nova afirmou estar contra a cedência das pinturas, que se encontram na Castanheira há séculos, porque «depois podiam mandar-nos outras», receia. Mas nem toda a gente se mostrou contra o empréstimo das pinturas. É o caso de Augusto Manuel Assunção que foi das «poucas pessoas» favorável à cedência das portas, até porque «traria nome à terra e mais pessoas de certeza absoluta», acredita.

«Já o ano passado se tentou levar as tábuas para restaurar e não deixaram. Qualquer dia apodrecem», critica. As peças em questão pertencem à Fábrica da Igreja Paroquial de Castanheira e servem como portas de acesso ao altar-mor. Quem prefere não tomar partido nesta questão é o presidente da Junta de Freguesia da Castanheira. «Foi um assunto que não passou por mim. Não sabia os moldes em que iam, nem para onde iam», esclarece Leonel Abadesso. A exposição, que está patente na Cordoaria Nacional, junta cerca de 300 obras de arte provenientes de Portugal, Espanha, onde S. Francisco Xavier nasceu, Áustria, França, Índia, Malta e Vaticano.

Ricardo Cordeiro

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