Arquivo

“Caso da Borralheira” regressa ao Tribunal da Covilhã

Relação deu provimento ao recurso de dois arguidos no caso da morte de um homem atado às grades de um café em Outubro de 2007

O Tribunal da Covilhã vai voltar a julgar o cenário da morte de um homem atado às grades de um café em Outubro de 2007, na Borralheira de Orjais. No ano passado, os seis arguidos foram condenados com penas suspensas, mas dois deles, Eduardo Pinto e Nídia Afonso, recorreram para o Tribunal da Relação de Coimbra, que ordenou a repetição do julgamento de ambos. A primeira sessão começou na passada quarta-feira.

Condenados a oito e seis e meses de prisão, respectivamente, os dois arguidos, que se encontravam no interior de um carro estacionado nas proximidades do local onde a vítima faleceu, estão a ser julgados pelos crimes de omissão de auxílio e exposição ao abandono. Recorde-se que no acórdão de Julho do ano passado foi dado como provado que os jovens estavam num carro estacionado junto ao café onde morreu João Inácio em Outubro de 2007. Na primeira sessão do julgamento, Eduardo Pinto e Nídia Afonso remeteram-se ao silêncio e recusaram-se a participar numa nova reconstituição dos factos, que a família da vítima (assistente no processo) requereu, mas que o colectivo de juízes duvidou poder ser realizada. A juiz-presidente Alexandra Reboredo aceitou antes o pedido do Ministério Público para se fazer novamente uma inspecção ao local com testemunhas e os dois arguidos, que ficou marcada para dia 24, às 9 horas.

Rocha Pereira, advogado dos familiares da vítima, solicitou ainda ao tribunal que os co-arguidos fossem ouvidos nesta repetição como testemunhas e que se juntassem aos autos conversas mantidas num “chat” na Internet de Nídia Afonso com uma das testemunhas no processo. O colectivo negou os dois requerimentos com base no Código de Processo Penal. Na primeira sessão foram ouvidas cinco testemunhas. A primeira foi Cátia Almeida, sobrinha da vítima, que disse que a arguida lhe confidenciou ter-se apercebido que o seu tio tinha uma perna amarrada às grades do café e que sentia «remorsos» por não ter tentado evitar a tragédia. Afirmou ainda desconhecer o local exacto em que a arguida se encontrava, bem como o campo visual de que dispunha.

Já António Cruz, inspector da Polícia Judiciária que coordenou a investigação, recordou que a primeira reconstituição do crime comprovou que quem estava sentado no lugar do “pendura” do veículo em que os arguidos se encontravam não tinha ângulo de visão para observar a vítima. Disse que apenas quem ocupava o lugar do condutor poderia tê-lo visto «com recurso ao espelho retrovisor exterior». Presente no julgamento, Manuel Inácio, irmão da vítima, considerou aos jornalistas que «aquilo que fizeram ao meu irmão não se fazia a um cão nem a um gato». Reconhecendo que «é doloroso» estar novamente em tribunal, o familiar declarou que «não se fez justiça» em Julho passado: «Para mim serão sempre culpados. Nunca ninguém me pediu sequer desculpa pelo que aconteceu», lamentou, visivelmente amargurado.

Ricardo Cordeiro Eduardo Pinto e Nídia Afonso pediram repetição do julgamento

“Caso da Borralheira” regressa ao Tribunal
        da Covilhã

Sobre o autor

Leave a Reply