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“Casablanca” 60 anos depois

Mediateca da Guarda comemora quarta-feira a estreia de um ícone do cinema clássico

A Mediateca VIII Centenário da Guarda evoca na próxima quarta-feira os 60 anos da estreia de “Casablanca”, de Michael Curtiz, com uma projecção comemorativa da inesquecível obra-prima do cinema clássico americano protagonizada por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Vencedor de três Óscares em 1943 (Melhor Filme, Realizador e Guião) de entre seis nomeações – Melhor Actor (Humphrey Bogart), Actor Secundário (Claude Rains) e Edição -, o filme é um dos ícones da Sétima Arte e provavelmente um dos mais brilhantes jamais realizados em Hollywood. Há cenas e músicas simplesmente inesquecíveis para ver ou rever dia 12.

O sucesso de “Casablanca” reside na sua subtil e arrebatadora intriga romântica, contextualizada no conturbado período da II Guerra Mundial para abordar as escolhas que os homens e as mulheres são obrigados a fazer em períodos difíceis. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman vestem esse dilema como ninguém, num enredo marcado pela impossibilidade deste amor continuar. O pano de fundo de um dos romances mais famosos é Casablanca, cidade costeira do Marrocos francês, onde os fugitivos da guerra na Europa tentam obter documentação para chegar até Lisboa e daí rumar aos Estados Unidos. Entre eles está Ilsa Lund (Bergman), uma antiga paixão de Rick (Bogart), o proprietário de um café para onde convergem todas as intrigas da cidade, e o marido desta, um membro da resistência checa procurado pelos nazis. O sofrimento de Rick ao vê-la é inevitável e ela fica novamente dividida entre os seus dois amores. Apesar de conhecido, o final continua a ser realmente surpreendente. De resto, o filme congrega, segundo os estudiosos, o melhor elenco secundário da história do cinema constituído por Claude Rains, Sydney Greenstreet, Peter Lorre, Conrad Veidt e Marcel Dalio.

Mas “Casablanca” não é só um drama sentimental, semeado de intriga e humor, é também um libelo patriótico vincado sobretudo na sequência final em que o capitão Renaud, chefe da polícia local, deita para o lixo um garrafa de água Vichy num claro protesto contra o Governo colaboracionista de Petain, sediado naquela localidade termal francesa. Com diálogos de uma eficácia a toda a prova, o filme de Michael Curtiz assenta ainda numa banda sonora inesquecível, com destaque para a célebre canção “As Time Goes By”, um hino romântico desde então. A título de curiosidade, diga-se que o par Bogart-Bergman não foi a primeira escolha da produção, que terá preferido Ann Sheridan e Ronald Reagan. Humphrey Bogart só obteve o papel de Rick depois do futuro presidente dos Estados Unidos, a escolha de Jack L. Warner, ter sido foi recrutado e enviado para a frente de batalha. Mas a solução de recurso acabou por revelar-se um enorme sucesso e transformou o feio e durão Bogart num ídolo para o público feminino. Uma popularidade que a viúva do actor, Lauren Bacall, desvalorizou com uma explicação modesta: «Ingrid Bergman era uma mulher tão bela e sensual na época, que qualquer homem que contracenasse com ela se transformaria num “sex-symbol”». “Casablanca” teve uma versão a cores no final da década de 80, da responsabilidade do grupo de Ted Turner, que detém todos os direitos sobre o filme, mas nem isso terá conseguido prejudicar o fascínio que o filme continua a exercer nas plateias.

Luis Martins

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