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Carta Aberta

Na passada quarta feira, dia 23 de Maio, fui confrontado com uma notícia publicada no semanário “A Guarda” através da qual fiquei a saber que um grupo de Amigos meus tomou a iniciativa de me promover uma homenagem.

De imediato telefonei ao meu Distinto Amigo Dr. António José Dias de Almeida, pedindo-lhe que me informasse sobre o que se estava a passar, uma vez que a notícia se reportava a declarações por si proferidas. Descreveu-me o que sabia sobre o assunto, dizendo-me que a iniciativa não tinha partido de si mas à mesma tinha aderido logo que dela tivera conhecimento.

A inesperada notícia, confrontou-me, no entanto, com o profundo respeito e consideração que sinto pelos meus Amigos e, por isso, remeti-me para uma ponderada reflexão sobre o cabimento e oportunidade da iniciativa. Aceitar a homenagem para cuja realização não vislumbro razão de merecimento e muito menos oportunidade? Declinar a honra, correndo o risco da minha decisão ser interpretada como indelicadeza, ingratidão ou desconsideração? Este o dilema com que fui confrontado.

Porque os meus Amigos, o são verdadeiramente, bem sabem que a enorme homenagem que me prestam, em cada momento, é o privilégio que me concedem com a amizade que cada um me dedica, à qual nem sempre, por demérito meu, sei corresponder.

Ao longo da minha vida, tudo o que tenho feito foi-me apenas ditado pelos valores pessoais, sociais e profissionais que me foram ensinados pela minha família, pelos meus amigos e pela minha consciência. Não fiz, nem faço, portanto, mais do que aquilo que entendo ser o meu dever, perante mim e perante os outros.

Por isso, quero dizer a todos quantos tão atenciosamente se propuseram distinguir-me com esta honra que, não posso aceitar a mesma porque a única Homenagem, lógica e admissível, é aquela que eu tenho de prestar aos meus amigos que com tanta benevolência me consideram.

Fica, pois, um profundo agradecimento, para todos e cada um, sabendo que, conhecendo-me como me conhecem, nunca esta minha decisão será interpretada como gesto de ingratidão, indelicadeza ou desconsideração, mas apenas como imperativo de consciência de quem, como eu, pauta a vida por um inabalável princípio de discrição.

Até hoje não conheço os nomes das pessoas que integram a Comissão Promotora da Homenagem, com excepção do Dr. António José Dias de Almeida. Por isso, na sua pessoa, quero aqui deixar formalizado um pedido de pública desculpa a todos os demais meus Amigos, mas, como bem sabem, não sei estar na vida de outra forma que não seja com total sinceridade e frontalidade. Pesar-me-ia, para sempre, receber uma homenagem que considero não me ser devida.

Bem-hajam pela Vossa Amizade que, certamente, compreenderá esta minha decisão.

Guarda, 26 de Maio de 2012

Álvaro José da Trindade Pereira Guerreiro, advogado, ex-presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses e ex-presidente da Câmara Municipal da Guarda

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