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Carnaval festejado à mesa com o bucho raiano

Confraria do Bucho Raiano organizou, no sábado, mais um almoço dedicado à típica iguaria do concelho do Sabugal

Desta vez, os confrades sentaram-se à mesa de traje, de cor castanha, a lembrar o antigo capote da raia, estreado momentos antes para o primeiro cortejo da Confraria do Bucho Raiano. No sexto almoço dedicado à peça de enchido mais famosa do concelho do Sabugal, que decorreu no último sábado, as formalidades próprias das confrarias passaram a ser cumpridas.

«A confraria deixa de ser vista como uma brincadeira», comentou o chanceler Paulo Leitão, um dos seus mentores. Foi no restaurante Robalo que confrades e convidados se juntaram para, em época de Carnaval, degustarem a típica iguaria, como manda a tradição. O bucho foi confeccionado à antiga, numa panela de ferro, envolto num pano para não rebentar, e servido com grelos de nabo e batata cozida. Antes, os convivas saborearam uma sopa de grão, feita com a água da cozedura do bucho, e morcela e mioleira. «Parece farinheira, mas é mioleira», esclareceu João Robalo, o cozinheiro e também proprietário do restaurante. No fim, ouviram-se rasgados elogios ao bucho, o rei dos pratos raianos – preparado com pedaços de carne do porco dos ossos, cabeça, rabo e orelha, que, após ser colocada em vinha de alhos, dá enchimento ao palaio do animal. «É que depois vêm os jejuns», com a entrada da Quaresma, lembrou Manuel Leal Freire, autor de uma vasta obra sobre as tradições da raia, a quem coube fazer a prelecção – em que falou do ciclo do porco e da matança e recordou que, no Sabugal, a tradição dita que o Carnaval seja festejado com excessos à mesa, com as famílias a juntarem-se para comer o bucho.

O almoço – integrado nos 3ºs Roteiros Gastronómicos, promovidos pela Câmara – reuniu 43 confrades, entre os quais o presidente da autarquia, António Robalo, e convidados como o presidente da Câmara da Guarda, Joaquim Valente, ou o vice-presidente da autarquia de Penamacor, António Cabanas, e ainda um representante da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas – a que a Confraria do Bucho Raiano já pertence. Dos confrades, «sensivelmente metade das pessoas reside em Lisboa e a outra metade aqui no Sabugal», constatou Paulo Leitão, também ele residente na capital. Recordando que foi há pouco mais de dois anos que um grupo de «meia dúzia» de sabugalenses a morar na capital lançou a ideia de a criar, como forma de promover o bucho, o chanceler explicou que a confraria é também «uma ligação entre o Sabugal e Lisboa». Mas o grande objectivo «é realizar iniciativas fundamentais para promover o concelho e a sua gastronomia», referiu Paulo Leitão, para depois se congratular com a tomada de posse dos primeiros órgãos sociais, que decorreu no final do almoço, também no restaurante.

Nesta altura, foi anunciado que a sede, actualmente em Lisboa, será mudada para o Sabugal, para as instalações da Junta, e ainda que o almoço anual no Sabugal se realizará sempre no sábado anterior ao Carnaval. A Confraria do Bucho Raiano, formalmente constituída em Maio do ano passado, esteve até aqui entregue a uma comissão instaladora que «preparou o seu futuro», contou o chanceler, acrescentando que faltam agora aspectos como a criação de um hino e do estandarte, essenciais no mundo das confrarias. Em Abril, altura em que acontece o I Capítulo de Entronização, a confraria deverá ter já condições para reunir todas as formalidades. O presidente da Câmara disse, por sua vez, que a autarquia está disponível «no que estiver ao seu alcance» para contribuir para o crescimento da confraria e, desta forma «também para a promoção do bucho». «Temos produtos de qualidade e é preciso promovê-los», acrescentou o autarca.

O restaurante Robalo encheu para receber os confrades e convidados

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