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Caritas revela uma raia com pouco mais que esperança

Actualmente, há 38.500 pessoas a viver na zona fronteiriça, mas eram 92 mil em 1950

Em 1950, a zona de fronteira entre Portugal e Espanha tinha 92 mil habitantes. Agora vivem na região menos de metade. As Caritas diocesanas da Guarda, Salamanca e Ciudad Rodrigo elaboraram um estudo que apresenta esta e outras problemáticas. Na sua apresentação na Guarda, há oito dias, os responsáveis destacaram o facto de, para além dos aspectos negativos, serem focados sectores que podem dar uma nova vida à região.

“A Raia como é – realidade problemática, futuro de esperança” é o título deste trabalho, que envolveu cerca de 150 pessoas, entre políticos, peritos e empresários. Segundo o estudo, ao envelhecimento junta-se a pobreza em que as pessoas vivem, a falta de emprego, de massa crítica e de empreendorismo. Há ainda o «esquecimento» a que a região foi votada pelo poder central, a inexistência de espírito cooperativo e dificuldades a nível associativo. Javier Alonso, sociólogo da Fundação para a Investigação Social Operativa e Aplicada (FINSOA), acredita que a recuperação desta zona relativamente ao resto da Península Ibérica passará pelo turismo, acção social, energias renováveis, agricultura e pecuária ecológicas, bem como pelas indústrias de transformação alimentar, o artesanato, o aproveitamento dos recursos naturais endógenos e pela cooperação institucional transfronteiriça. «A raia tem potencialidades para que lá vivam comunidades normalizadas», sublinha o investigador.

Paulo Neves, da Caritas da Guarda, referiu o distanciamento entre as populações fronteiriças e as instituições de apoio. «O que é que adianta alguém que está na Raia ter um serviço na Guarda, se nunca há um encontro directo entre as pessoas?», questiona. Por isso mesmo, está previsto um Centro de Integração Interdiocesano em Vilar Formoso. A partir desse local, os técnicos irão ao encontro das populações carenciadas «no sentido de mentalizar e de capacitar. Depois, também o espírito empreendedor necessário poderá vir por acréscimo». Por seu turno, Pires Manso, catedrático da Universidade da Beira Interior, levantou algumas objecções ao modelo de investimento efectuado do lado português nos últimos anos. Apesar da situação demográfica, grande parte das Juntas de Freguesias tem vindo a construir polidesportivos e piscinas. «Naturalmente que não serão os melhores investimentos, porque acabam por ser “elefantes brancos”», considerou. O docente, também ele raiano, preferia ver esses fundos canalizados para a área social onde, mesmo assim, muitas das localidades estão bem servidas, tendo sido até anunciado um grande projecto para Malcata.

No documento apresentado no Paço da Cultura, os autores dizem estar cientes de «tudo o que se está a fazer por parte das administrações locais e regionais e da iniciativa privada, mas consideram-no escasso, lento e pouco eficaz». Nesse sentido, o Bispo da Guarda elogiou o desenvolvimento que tem verificado na Covilhã, em contraponto com a sede de Diocese. «Na Guarda temos um parque industrial subdesenvolvido ou sem desenvolvimento», lamentou. D. Manuel Felício esclareceu que já fez chegar esta ideia junto de Virgílio Bento, vice-presidente da Câmara, e acrescentou que «de palavras está o mundo cheio», referindo-se às declarações de Cavaco Silva em Vila de Rei, onde o Presidente da República falou sobre a desertificação e a falta de investimentos no interior.

Igor de Sousa Costa

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