Arquivo

Caritas pode apertar critérios de ajuda

Para ajudar quem mais precisa num contexto de crise económica e evitar que beneficiários se aproveitem do sistema de apoios sociais

Os responsáveis da Caritas Diocesana da Guarda podem vir a ser mais criteriosos na selecção dos beneficiários devido à crise económica, mas sobretudo para ajudar quem realmente precisa. Emília Andrade justifica que a «missão essencial» desta organização é apoiar as pessoas com mais necessidades. «Há gente que se aproveita do sistema e consegue apoios de vários lados, enquanto outros acabam por não receber aquilo que precisam. Também há pessoas que se acomodam com as ajudas e não fazem um esforço para saírem dessa situação», exemplifica a presidente da direcção da Caritas.

A instituição assinalou no passado domingo, no seu stand do Vivaci, o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, onde a responsável revelou que entre 200 a 300 pessoas recebem, mensalmente, apoio da Caritas, um número que tem vindo a aumentar «ligeiramente». A maioria dos casos situa-se na sede da Diocese, que abrange a Covilhã e o Fundão, mas Emília Andrade alerta para um «crescimento exponencial» nos concelhos de Gouveia e Seia, «onde antes não havia problemas». Trata-se sobretudo de idosos e antigos trabalhadores dos lanifícios que ficaram desempregados, mas há cada vez mais jovens com falta de emprego. «No caso dos mais novos, são casais com filhos, em que um ou os dois estão desempregados, ou beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI). Nos mais idosos, foram antigos operários cujas reformas se foram degradando em relação ao custo de vida actual e, portanto, não têm poder de compra», adianta.

A dirigente revela que, ultimamente, tem sugerido a quem quer ajudar a Caritas que «o melhor donativo que podem oferecer é dar emprego às pessoas», isto porque a crise que o país atravessa «não vai melhorar a sua situação» dos mais carenciados. «É possível que os pedidos de ajuda aumentem no próximo ano, enquanto os donativos e as ajudas tenderão a diminuir», avisa. Actualmente, já enfrenta alguma carência de alimentos, uma situação contornada com recurso aos donativos para comprar o que falta. «Não temos outra hipótese, o problema é que depois não temos dinheiro para outras tarefas», refere, dizendo que o objectivo é encontrar «formas expeditas» de apoiar as pessoas. Ocasionalmente, até pode passar por emprestar dinheiro a quem não consegue pagar a renda ou a factura da luz. «Mas depois as pessoas pagam-nos», garante, declarando que a instituição conta actualmente com doadores «habituais e sistemáticos» em dinheiro e móveis e é com eles que «outras pessoas vão seguindo o exemplo».

Mas nem só de carências económicas trata a Caritas. Emília Andrade chama a atenção para o facto de haver na Guarda muitos idosos a viverem sozinhos – «e a morrer sós», receia. «Uma das maiores pobrezas, hoje, é a situação destas pessoas, que são relegadas para último plano porque não têm filhos ou estes estão longe. E sobrevivem com muita carência de afecto e de ajuda para para ir ao banco, ao médico ou ao cabeleireiro», adianta, sublinhando que a Caritas tentou implementar a “Visita Amiga” mas não conseguiu por causa do receio destas pessoas receberem estranhos em casa. «É um serviço essencial e que vamos tentar concretizar», afiança.

Um trabalho de voluntários

Em 2011, a Caritas tenciona ter legalizadas as valências do Centro de Apoio à Vida “Nascer”, que está praticamente concluído, e do Serviço de Apoio Domiciliário, cujo processo está quase finalizado. «É um trabalho que tem envolvido as últimas direcções», recorda Emília Andrade, que considera «fundamental» procurar uma nova sede, pois a actual precisa de obras. Acrescenta, no entanto, que essa não é «a preocupação do momento». Em termos de voluntários, indica que o número varia consoante as actividades – apenas cinco são funcionários da instituição –, sendo que a Caritas acompanha pessoas com problemas de apoio psicológico, jovens emigrantes que andam à procura de trabalho ou de alguém que os oriente nos processos de legalização. Há ainda cursos de alfabetização de autóctones e imigrantes, mas o grande destaque vai para as voluntárias da “Loja da Fraternidade”, onde «recebem, triam e separam toneladas de roupa».

Luis Martins Casos de pobreza aumentaram «exponencialmente» em Seia e Gouveia, alerta a presidente da Caritas

Caritas pode apertar critérios de ajuda

Sobre o autor

Leave a Reply