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Caritas Ibéricas querem criar Observatório Social

Novo mecanismo para combater a exclusão social nasceu no I Encontro Ibérico das Caritas de Andorra, Espanha e Portugal realizado na Guarda

A criação de um espaço de cooperação inter-Caritas, que permita uma nova dinâmica na relação entre as três instituições, foi o grande objectivo do primeiro Encontro Ibérico das Caritas de Andorra, Espanha e Portugal, que decorreu na Guarda, no último fim-de-semana. “A Europa como oportunidade e desafio no âmbito social” foi o tema desta autêntica cimeira ibérica, que contou com a presença dos presidentes das Caritas dos três países, bem como do Bispo da Guarda, D. António dos Santos.

Os responsáveis pelas Caritas Ibéricas consideram ser este um momento histórico de profunda transformação económica e social da União Europeia, com a próxima entrada de vários países de Leste. Uma mudança que coloca problemas como a imigração, o desemprego ou o empobrecimento dos territórios na ordem do dia. Neste sentido, Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, salientou que o encontro surgiu numa altura «importante», sendo «necessário haver uma coesão entre as três Caritas que se encontram numa ponta da Europa e cujos países poderão sofrer uma redução dos apoios comunitários e o consequente impacto social e económico devido ao alargamento». O responsável defendeu ainda a necessidade das Caritas terem que estar preparadas para «o impacto que a mão-de-obra, mais qualificada e com menores custos, dos países de Leste vai provocar» na Península Ibérica, sublinhou. Também Nuria Gispert, responsável máxima pela Caritas Espanhola, considerou que a Europa está a viver um «momento crucial». «A globalização tem efeitos muito importantes, excluindo cada vez mais pessoas, com os ricos a ficarem cada vez mais ricos e os pobres mais pobres», lembrou. Mas um instrumento importante para combater esta tendência poderá ser a criação de um Observatório Social Ibérico, «que nos vai dar uma radiografia da pobreza na Península Ibérica», diz a presidente da Caritas espanhola.

De resto, Eugénio Fonseca explicou que os dados vão ser recolhidos «do local para o nacional», ou seja, serão as paróquias e as dioceses que vão fazer chegar as informações à Caritas Portuguesa, de forma a «haver uma melhor percepção da realidade», indicou. Quanto a Agustin Font, presidente da Caritas de Andorra, realçou que «chegou a altura de globalizar a caridade europeia», frisou. Entre as várias conclusões identificadas no I Encontro Ibérico das Caritas destacam-se, para além do estudo da viabilidade de constituição de um Observatório Social, a identificação de mecanismos que possam dar seguimento à cooperação e ao estreitamento de laços entre as três instituições ou a análise e promoção conjunta de projectos de luta contra a exclusão social. De igual forma, é necessário promover a identificação das tendências demográficas e sociais, desenvolvendo capacidades de gestão da mudança e de combate aos problemas sociais emergentes, bem como a formação doutrinal e metodológica de voluntários. Neste último campo, Portugal fica a perder para o país vizinho, os voluntários estimam-se apenas em cinco mil, contra os 70 mil que existem em Espanha. Desta forma, «é preciso cuidar da formação dos voluntários», realça Eugénio Fonseca. Também, os imigrantes portugueses em Espanha que «muitas vezes vivem em situações precárias» preocupam a Caritas Portuguesa, tal como o desemprego nos dois países.

Ricardo Cordeiro

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