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Capitulação versus Decapitação

Agora temos o PEC logo depois da aprovação do OE/2010.

Arrisco a afirmar que a variável “eleições PSD” esteve presente neste “curto” atraso na apresentação do PEC.

Já o escrevi noutras oportunidades; com o PS no governo é certo que Portugal vive tempos de recessão, situações de pobreza extrema, maior percentagem de desempregados, etc, etc.

A “festa” arranca sempre forte e termina sempre muito frouxa.

Foi assim com o Dr. Mário Soares, seguiu-se o Eng.º António Guterres e agora o Eng.º. José Sócrates tentará para o bem de todos livrar-se e livrar-nos dessa quase certa evidência.

Veremos o que nos reserva a “instável” legislatura onde o partido dominante se arroga agora no direito de co-responsabilizar os outros partidos pelo que não concretizaram e ainda pelo grande remendo que foram sabendo fazer desde 1995 até aos dias de hoje.

Temos visto os portugueses a capitular na vontade e desígnio político nacional e hoje com quase nula perspectiva de futuro.

Recordo-me que em 2004 era então a chaga social – o desemprego – a marca de um governo de direita – PSD / CDS – PP – clamava e proclamava aos quatro ventos a “fanfarronice” socialista … as portagens nas SCUT’s, ou em algumas, era outro insulto ao governo de coligação e uma afronta aos portugueses, as trapalhadas, a liberdade de expressão eram os “pratos principais” dos jornalistas e/ou comentadores politólogos e debates e mais debates … os pensadores do costume rabiscavam já a queda do governo mesmo sendo de maioria absoluta parlamentar… outros tempos, outros protagonistas logo outros argumentos.

As eleições de 2005 permitiram a serenidade, a tranquilidade, a bonança, a maioria absoluta e daí múltiplos lugares a preencher e um raio de sol pousou sob Portugal.

Finda quase década e meia de governo socialista vem por aí aos “tombos e bocejos” a factura. Primeiro negou-se a crise, noutro momento a crise internacional como a “padroeira” de todos os males que afligiram e afligem a condução da vida política. Há verdade neste argumento mas o rigor mostra que o agravamento já era progressivo.

Entretanto ainda houve tempo para ensaiar uma acusação a meio mundo pelo incómodo causado com “questões menores” suscitadas pelo próprio junto dos sistemas…

Valeu-nos por ironia os que muito anotaram os deslizes do então Primeiro-Ministro que agora alteram a mira e optam por colocar em causa a autenticidade de todos os outros sistemas optando por relevar as tais “questões menores”.

Por cá, e felizmente apesar do rigor do Inverno os buracos das estradas não aumentaram a sua secção antes alastraram por múltiplos pavimentos particularmente os lotes colados em final do período estival. É mais fácil culpar o empreiteiro que agora vai ter de repor o trabalho.

Implora-se que tal aconteça já no próximo Verão e logo prometemos esquecer o anterior “equívoco tecnológico”.

Também imploramos que a “decapitação” decretada por exemplo ao NDS, ao próprio autarca eleito nos Trinta possa terminar, abrandando a “pena” para “capitulação” pois também o período estival já lá vai…e o desporto e a cultura são importantes mas, pelos vistos, só quando concretizadas, materializadas, divulgadas e promovidas pelos “donos” do regime local.

Nestes dois casos é intrigante ter sido a própria Câmara Municipal da Guarda a definir os parâmetros de apoio aos clubes e depois ser a primeira a falhar e face ao valor que deve a um clube – mais de cem mil euros – não podemos surpreender-nos e não supormos o cálculo interesseiro e demagógico de quem gere as dívidas. Se não é tentativa de encerramento compulsivo não sei como catalogar este procedimento de franco esmagamento cívico.

Sem dúvida nada pode esquivar-se dos férreos carris que a locomotiva regimental se encarrega de puxar para debaixo do tapete.

No segundo caso é ainda muito mais difícil mas agora hilariante e contagiante escutar as desculpas, as fugas para a frente da Câmara Municipal da Guarda para não apoiar decididamente a construção de uma casa da cultura para os Trinta.

É a Câmara Municipal da Guarda, técnicos e políticos, que aprovam o projecto, licenciam a obra, emitem a licença e depois diz-se desconhecer a existência de realidade tão palpável…

Mais é possível afirmar agora e pelos vistos rude projecto – aprovado com indicações dos técnicos municipais – e desconhecer os esforços, as reuniões, os pedidos de apoio do autarca e nunca em longos anos ter havido apoio material, logístico, técnico ou financeiro. É a perfeita cultura da culpa democrática.

Sim, é melhor “sustentar” a onda sísmica dos espectáculos que ter de suportar o incómodo de quem se esforça por deixar caboucos mais firmes e mais permanentes para a fruição sócio-comunitária de uma comunidade que “azaradamente” escolheu democraticamente ficar fora dos férreos carris que têm aguentado a esmagadora força da máquina que progride.

Dois exemplos claros e conhecidos que revelam como a capitulação fez e faz o seu caminho tornando quase nulo o empenhamento cívico. Porventura poder-se-á esperar que com mais espectáculos possa acontecer um processo de aculturação democrática mais culta e plural? Se for necessário este “solvente” pois que se invista rápido nesta via.

O desemprego é outra face que também tem fustigado a Guarda nos últimos tempos. É saboroso e contentamento colectivo cortar a fita de um novo empreendimento mas já é mais difícil quando se assiste ao aumento de desemprego e à diminuição das ofertas e empobrecimento colectivo.

Comentou-se na comunicação social o extraordinário aumento do número de inscritos nos Centros de Emprego da região agora deixou de ser a marca social do governo de direita e passou a ser a crise internacional.

A situação é mais séria do que qualquer cliché político, obriga a um maior esforço de alternativas de “produção / encontro” de soluções que não passem apenas pelos habituais e necessários apoios sociais aos cidadãos atingidos por essa situação.

Aqui fará sentido percebermos a realidade não apenas na óptica do nosso concelho ou distrito mas olharmos em redor e nessa realidade mais ampla podermos ter uma solução diferenciada assente num apelo conjunto e eventualmente não apenas se resumir ao poder central mas convocar o plano europeu nos seus programas de apoio conjugando-os com outros instrumentos mais direccionados a regiões periféricas e deprimidas com a certeza que a este ritmo o desemprego de muitos vai produzir substantivas alterações nos panoramas sociais e económicos da nossa região e o definhamento mesmo que diferido de outra tanta actividade comercial.

Por: João Prata *

* presidente da concelhia da Guarda do PSD e deputado à Assembleia da República

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