É um acontecimento que não precisa de ser anunciado, pois há muito que os aficionados aguardam pelo arranque da época das capeias “arraianas” no concelho do Sabugal. Como habitualmente, cabe à Lageosa da Raia abrir, amanhã, a curta e intensa temporada deste peculiar evento tauromáquico. Até dia 25, estão programadas 14 capeias, duas garraiadas e uma corrida de touros à portuguesa.
A capeia “arraiana” faz-se de encerros de touros pelas ruas das aldeias e lides com forcão nas praças. A sua origem perde-se na memória dos tempos e mesmo os habitantes mais antigos conviveram desde sempre com esta tradição. Mas ainda hoje as praças são improvisadas nos largos das aldeias, recorrendo-se a carros de bois carregados com troncos de árvores, que estabelecem uma sólida barreira entre o touro e os espectadores. O forcão, uma estrutura triangular de madeira onde cabem 30 homens, é o elemento aglutinador desta festa, já que é com ele que se lida o touro e que os jovens se afirmam perante a comunidade. Esta prática é única e exclusiva das gentes raianas, tanto assim que a tradição vai ser candidatada a Património Imaterial da Humanidade pela Câmara local, que invoca a sua «importância etnográfica, cultural e social» no concelho. A proposta está a ser elaborada há ano e meio pela empresa municipal Sabugal +, que tem vindo a recolher documentos áudio e vídeo, bem como depoimentos orais e escritos de praticantes e apreciadores da corrida de touros com forcão.
Enquanto o dossier não segue para o Instituto dos Museus e da Conservação, cujo parecer é fundamental antes de ser enviado para a UNESCO, o município prepara-se para viver ao ritmo das capeias. O roteiro é o do costume e inclui treze aldeias, culminando com o tradicional festival “Ó Forcão Rapazes”, que decorre dia 21 na praça do Soito. Este ano, nove equipas de outras tantas localidades rivalizam para conseguir a melhor lide naquele que é considerado o “campeonato do mundo do forcão”, numa organização das Juntas de Alfaiates e Aldeia da Ponte. Depois da Lageosa, a capeia está de regresso na segunda-feira em Aldeia do Bispo. Soito (dia 10), Ozendo e Rebolosa (ambas dia 11), Nave (dia 14), Aldeia da Ponte (dia 15), Forcalhos (dia 16), Alfaiates e Fóios (ambas dia 17), Vale das Éguas (nocturna, dia 18) e Badamalos (dia 21) compõem o resto da temporada, que termina, como habitualmente, a 25 de Agosto em Aldeia Velha.
Pelo meio há as garraiadas de Ruivós (sábado à noite) e de Seixo do Côa (segunda-feira), bem como a tradicional tourada da associação “Amigos de Aldeia da Ponte”. O cartel deste domingo na praça da localidade inclui os cavaleiros Luís Rouxinol e Ana Baptista, o matador Marco Leal e os forcados amadores de Coruche e Coimbra, que vão lidar touros da ganadaria de António Charrua. Os lucros desta corrida revertem a favor do «bem social e cultural do povo de Aldeia da Ponte», adianta a organização.
Luis Martins 
