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Canhão de pedra

Ao atravessar uma rua das Termas de S. Pedro do Sul fui abordado por um casal, já de meia-idade, da zona de Lagos, que pretendia saber onde eram os balneários das Termas e uma capela onde o nosso rei D. Afonso Henriques ia rezar.

Dei-lhe as indicações desejadas mas fiquei a meditar sobre as perguntas que me fizeram, porque, ao dar a informação, usei como indicador o jornal onde o nosso Nobel escritor José Saramago afirmava que podíamos ser “absorvidos” pelos espanhóis. (…).

Mas o engraçado de tudo isto é um português escrever sobre os espanhóis e outro a perguntar por onde tinha andado D. Afonso Henriques. O “tiro” do timoneiro da “jangada de pedra” foi dado também por um canhão de pedra, sendo o projéctil apenas formado por flores e folhas da erva saramago, que só é ácida e amarga e com ela nada se pode conquistar. Se o projéctil fosse de outra matéria, encontrava com certeza uma casa portuguesa pela frente. Os Portugueses só se podem conquistar pelo amor, ele sabe melhor que ninguém que não foi o primeiro nem será o último.

Ele não disse aquilo com a ideia de magoar ninguém e muito menos renegar a sua Pátria, foi apenas um desabafo de ira, como qualquer crente que blasfémia contra o seu Deus ou perde a sua fé até um dia a reencontrar na hora da verdade.

Que mande sempre tiros deste tipo, (…), pois são saudáveis e agitam os adormecidos. (…) Pela nossa pequenez territorial, populacional, antiguidade e pela grandiosidade mundial que já fomos, não me admirava nada que estivéssemos já incluídos no lote do Património da Humanidade.

O nosso rei D. Afonso devia ser muito organizado, rápido e forte. Ia lá abaixo dar “porrada” aos mouros, passava pelas Termas de S. Pedro do Sul para curar as suas maleitas e ferimentos e seguia para Guimarães acabar de se fortalecer e pensar noutro ataque. Ora, se tivesse o dobro do pessoal guerreiro, tinha dado também “porrada” nos castelhanos e hoje aquilo a que chamamos Península Ibérica era tudo Portugal. Isto faz-me lembrar uma quadra cantada nas romarias da Beira Interior que diz:

“Senhora do Almortão/ Minha linda arraiana/ Volta as costas a Castela/ Não queirais ser Castelhana”.

António do Nascimento, Guarda

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