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Candidatos e candidaturas

Sonhar é preciso

Brevemente, assistiremos a uma nova movimentação política em torno das eleições autárquicas, que já começaram a dar que falar em círculos restritos, mais ou menos afetos a grupos partidários, que se perfilam, quase biologicamente, para a dança dos lugares em disputa.

São elites que, a seu tempo, se irão colocar na praça pública para exibirem as suas capacidades extraordinárias sobre as outras elites concorrentes e serem escolhidas, pois só elas possuem as capacidades necessárias para fazer tudo quanto precisa e até quanto não precisa de ser feito. Quais vendedores de ilusões e propagandistas de fantasias, sem perceberem que, nestes reinos, as personagens são do faz-de-conta e que servem apenas para o divertimento de crianças em período de recreio.

Serão elites do faz de conta? Serão personagens da floresta encantada? Serão duendes ou, ao contrário, afirmar-se-ão como verdadeiros trabalhadores da política, com capacidade para dizerem do que são realmente capazes e quais os meios e as ideias que têm para concretizar um programa de realizações que, à partida seja estabelecido, sob compromisso de honra, com todos os cidadãos que dizem querer representar, tendo como princípio incontornável o respeito, o apoio e, acima de tudo, o seu entendimento deles como pessoas que têm direito a ter direitos?

Será que não iremos deparar-nos com personalidades que, na ausência de capacidades, pensam poder exercer a sua arrogância? Quem poderá impedir que estes senhores, da ganância e da arrogância, se assumam como elites locais ao seu próprio serviço? Todos e cada um de nós o pode fazer! Exija-se-lhes que digam claramente quem são e o que pretendem! Não através de palavras que o vento leva e o tempo apaga, mas através da evidência autentica de que estão em percursos convergentes com os interesses da população, que precisa de representantes verdadeiros, honestos e portadores de honra. Não da honra que, após uns copos bem bebidos, se afirma à mesa do café ou ao balcão do bar, mas daquela honra que dignifica a palavra dada, que respeita o compromisso e que se concretiza na capacidade de ver em cada Homem um irmão pelo menos tão importante como nós próprios.

Exija-se que os políticos sejam o sentimento de cada cidadão que representam. Apoie-se, de peito aberto e raciocínio tranquilo, aquele que aceite sem ambiguidades, o julgamento do povo que o elegeu, desde que esse povo, em audição coletiva (realizada uma vez em cada ano do mandato), o considere incumpridor das responsabilidades assumidas.

Termine-se, duma vez por todas, com a ideia de que um político, uma vez eleito, tem direito a exercer o poder, mesmo que esse poder deixe de lhe pertencer por violação de direitos. Sim, porque em atos eleitorais, as promessas transformam-se em direitos dos cidadãos! Direitos que não podem ser reprimidos, violados ou usurpados!

Cada cidadão tem o direito de ser candidato e cada não candidato tem o dever de exigir os seus direitos, no pressuposto de que ser eleito significa ser o escolhido para representar os interesses respublicos, a que todos pertencemos, e não os interesses resfalimiaris, a que só o candidato e a sua clientela pertencem.

Não podemos deixar que os candidatos se pensem “Dons Sebatiões” que, colocados em andores, sejam transportados sobre os ombros dos crentes numa santidade que esmaga a fé e desdenha da esmola, enquanto se julgam o sal da terra e a luz do mundo.

Por: Quelhas Gaspar

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Nota: Quelhas Gaspar inicia nesta edição uma coluna mensal. O novo colaborador de O INTEIROR tem 63 anos é técnico de Património Cultural e investigador de História Urbana.

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