Arquivo

Caminhos para a Beira Interior

Numa altura em que entramos num novo quadro comunitário de apoio, o “Portugal 2020”, importa salientar alguns sectores que poderão ser a curto e médio prazo importantes na fixação de gente no interior, de modo a parar o despovoamento que cada vez mais parece uma fatalidade para esta região.

A agroindústria será certamente um dos que terá maior capacidade de crescimento na região. O sector vitivinícola é disso um exemplo: há uma dúzia de anos estava pouco explorado e hoje, graças às mais diversas iniciativas e à audácia dos empresários que acreditam neste potencial, os vinhos da Beira Interior estão a ganhar um reconhecimento cada vez maior, tanto em Portugal como fora de portas. Mas ainda há um longo caminho a percorrer!

Outro sector com enorme margem de progressão, muito importante no passado e que atravessa uma renovação, é o frutícola. Quer na Beira Interior, quer na generalidade do país, o modelo das cooperativas frutícolas não funcionou (salvo raras exceções). Este teve de se reorganizar e hoje temos alguns casos de sucesso, sendo exemplo disso a cereja do Fundão (e aqui saliento o trabalho de promoção que o Clube de Produtores do Fundão está a fazer), o pêssego da Cova da Beira e um caso ou outro de maçã, mais a norte, o que é manifestamente pouco para o que podemos produzir.

Na olivicultura existem alguns casos de grande sucesso, mas temos condições para aumentar a nossa produção de azeite de elevada qualidade, uma vez que a procura mundial está a aumentar exponencialmente por este bem alimentar. Logo será certamente uma boa aposta investir e dinamizar mais este sector onde temos grande margem de crescimento quantitativo e qualitativo.

As nossas condições edafo-climáticas ímpares para produzir este tipo de produtos, em agricultura mais amiga do ambiente (produção integrada e a agricultura biológica), e que têm vindo a ter uma grande procura nos mais diversos mercados que valorizam sobretudo a qualidade e a sustentabilidade são seguramente o futuro, a par do “know-how” que atualmente existe na região, nas associações deste sector, de que são exemplo a AAPIM e APIZEZERE, permitem-nos encarar estes desafios com maior confiança.

O Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar de Castelo Branco (CATAA), que foi criado precisamente para apoiar o setor, tem por objetivos precisamente o apoio técnico e tecnológico à agro-indústria em três grandes áreas de intervenção: Inovação & Desenvolvimento; a Investigação Aplicada e Desenvolvimento Tecnológico; Capacitação e Prestação de Serviços.

Temos de aproveitar as valências existentes para conseguirmos criar riqueza nesta região e desse modo dar condições às pessoas para cá viverem de forma digna. Acrescento também o INOVCLUSTER, organismo que apoia igualmente estes sectores, nomeadamente na internacionalização das empresas.

Temos produtos de excelência no sector dos queijos e derivados, nos enchidos, nos frutos secos (amêndoa e castanha), nas ervas aromáticas, nos cogumelos, etc.

Na minha modesta opinião faltam-nos 2 ou 3 coisas essenciais:

1 – Sermos profissionais a vender, a divulgar, a apresentar os produtos, a dar importância ao “package”, no “ir à guerra”, ou seja, ir a feiras sectoriais, aos mercados para onde pretendemos exportar e, quando exportamos, acompanhar in situ o cliente.

2 – Sairmos deste “nosso mundo” e ver o que se faz pelos mais variados países e regiões e adaptar a nossa estratégia de vendas aos mercados alvo.

3 – Para vendermos qualquer produto, em qualquer mercado, temos de ter SEMPRE em atenção a relação de empatia e de CONFIANÇA que criamos com o nosso cliente; se assim não for, não conseguimos vender seja o que for.

Há uma nova geração de jovens, com um nível superior de formação, que fala línguas, que sabe de gestão, de vendas, etc., mas é preciso dar-lhe oportunidades. Mas os jovens também têm de ir à procura das ditas oportunidades.

Devemos ser proactivos, tentar criar, melhorar, fazer coisas! Na região há oportunidades para trabalharmos; cabe a cada um de nós ir também à procura delas e criar as condições para as oportunidades. Citando JF Kennedy: «A dificuldade é uma desculpa que a história nunca aceita». Vamos fazer das dificuldades oportunidades e aproveitar da forma mais eficiente possível os fundos do “Portugal 2020”.

Por: Rodolfo Queirós

Sobre o autor

Leave a Reply