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Caminhos da transumância cruzam-se no Fundão

Segunda edição do festival “Chocalhos” passa este fim-de-semana por Alpedrinha, Capinha e Salgueiro

O património da transumância vai ligar durante quatro dias as freguesias de Alpedrinha, Capinha e Salgueiro (Fundão) no âmbito da segunda edição do “Chocalhos” – Festival dos Caminhos da Transumância. O evento, promovido pelo município do Fundão, começa esta quinta-feira e é feito de exposições, oficinas de música com chocalhos, concertos, uma feira franca, um encontro de tocadores de instrumentos musicais pastoris e uma caminhada pelos antigos trilhos da transumância. Argumentos itinerantes pelas três freguesias para evocar até domingo uma época em que os rebanhos percorriam o concelho em busca de pastos frescos disseminando alguma riqueza, cultura e novas perspectivas.

O lema do Festival dos Caminhos da Transumância é justamente perceber melhor e aproximar «gados, gentes e horizontes», tendo como ponto de partida a exposição “Matérias de Solidão”. A mostra, que é inaugurada ao fim da tarde de hoje na Casa Museu do Salgueiro e termina domingo, revela uma visão mais próxima do quotidiano do pastoreio e dos objectos que o povoavam, apresentando alguns artefactos que preenchiam a solidão do pastor, o auxiliavam no seu trabalho e constituem hoje um valioso património da memória colectiva de uma vasta região. A programação nesta localidade termina com o concerto/palestra de Cid Cebrián. Para amanhã em Alpedrinha está programada a Feira Franca, uma iniciativa que recria os mercados de antanho com várias lojinhas de produtos locais e promete encher de animação e música as ruas da vila até domingo, contando para isso com as actuações dos ranchos de Alpedrinha, Cova da Beira e Boidobra, dos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, bem como concertos com acordeonistas, Filipa Melo e o Quinteto de Clarinetes. O dia de sábado fica ainda marcado pelo arranque do encontro de tocadores de instrumentos musicais pastoris no Teatro Clube local, que se estende até sábado, com músicos portugueses e espanhóis, muitos deles eminentes estudiosos da etnografia polifónica regional. O objectivo é proporcionar, através de concertos didácticos, conversas e uma exposição, um melhor conhecimento de instrumentos como a bandurria das Astúrias, a gaita de foles de Zamora e Trás-os-Montes, a flauta de osso de asa de abutre ou a flauta de tamborileiro.

Sessões práticas enquadradas por contos romanceiros, histórias tradicionais de amor/drama e um ciclo de conferências sobre estes instrumentos por especialistas como Daniel Garcia, José Rámon Cid Cebrián, Victor Félix, entre outros. A poesia marca encontro, também no sábado, com o lançamento do livro “7 Poetas em Alpedrinha”, na Capela do Leão. Durante o fim-de-semana, mas na Capinha, tem lugar uma oficina de música com chocalhos. A “Chocalhada”, agendada para o Clube Desportivo local, será ministrada por Marcos Cavaleiro e Jorge Queijo, músicos do grupo de percussão “Campânula Hermini”. Este projecto surgiu em 2001 na Guarda e a sua música é uma fusão onde os sons tradicionais se combinam com os ritmos e sonoridades modernas. No final da oficina, todos os elementos dos Campânula irão juntar-se aos formandos para um concerto de encerramento da “Chocalhada” e do próprio festival. Até lá, os visitantes podem descobrir na sala da Junta de Freguesia uma exposição sobre Fernão Joanes (Guarda), “Terra de Pastores”, assistir à peça de teatro “Água de Neve”, no Solar D. Carlota pelo grupo Transumante a partir de um conto de Nuno de Montemor, e acompanhar no domingo a arruada dos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, Bombos de Lavacolhos e acordeonistas. O Festival dos Caminhos da Transumância proporciona ainda no domingo de manhã uma caminhada com rebanho desde a Praça do Município, no Fundão, até Alpedrinha, passando por Alcongosta, seguindo as antigas rotas da transumância que cruzavam o concelho vindas da Serra da Estrela para a campina da Idanha.

Luis Martins

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