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Caminhada para limpar a Serra

Cerca de 30 caminheiros participaram na iniciativa e teriam agradecido o apoio de um camião do lixo

Os participantes da Caminhada pelo Ambiente da Serra da Estrela, realizada no sábado, teriam agradecido o apoio de um camião do lixo, tal foi a quantidade de detritos recolhida no planalto central. «Não é fácil recolher tudo, ainda ficou muito por apanhar», lamenta Paulo Ramos, do Tortosendo, visivelmente desanimado com o cenário que encontrou no percurso Covão da Ametade-Torre. «É impressionante o que os turistas deixam para trás», garante.

Mas à falta dele, a trintena de caminheiros pôde contar com a ajuda inesperada de cerca de 70 amantes do todo-o-terreno, do Fórum Land Rover, sediado na Lousã, que acabaram também por participar. «A nossa ideia era plantar carvalhos, mas como já não há, mudámos de planos e acho que valeu a pena. Foi uma manhã bem passada», disse Carola Gonçalves, também ele bastante impressionado com os despojos do último Inverno. «Quem deixa plásticos, pára-choques, fraldas, latas de cerveja e até pilhas na Serra da Estrela é muito irresponsável», critica. E enquanto chega um pequeno grupo de participantes do Fundão com sacos de lixo às costas, Paulo Ramos acrescenta que «há sempre surpresas desagradáveis, sobretudo os plásticos usados para escorregar na neve, que as linhas de água se encarregam de levar para muito longe». Durante a manhã, os caminheiros confluíram até à Torre por quatro percursos diferentes, com 3 a 8 quilómetros de extensão, partindo das Penhas da Saúde, do Covão da Ametade, Lagoa Comprida e Alvoco da Serra.

O desafio foi lançado pela Plataforma pelo Desenvolvimento Sustentável na Serra da Estrela, com o objectivo de promover formas alternativas de conhecer o maciço central e recolher algum do lixo disperso na zona da Torre. «Aumentar a percepção pública da gravidade dos problemas ambientais na Serra da Estrela e da necessidade das políticas ambientais nesta área protegida» foram outros propósitos da organização, mas José Maria Saraiva, da Associação dos Amigos da Serra da Estrela (ASE) acredita que a população «começa a estar desperta para estes problemas». No entanto, admite que ainda há «uma grande irresponsabilidade» por parte de quem visita a Serra: «Atrever-me-ia a dizer que há muito porco a visitar a Serra e ela não merece isso», critica, considerando que «só o corte de estrada poderá pôr cobro a esta desgraça ambiental». O dirigente sublinha mesmo que é preciso «punir quem suja», mas que a eventual criação de portagens é um «perfeito absurdo».

«Primeiro, porque o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) não pode colocar barreiras numa coisa que não lhe pertence, pois há aqui propriedades particulares e baldios. Por outro lado, é preciso ganhar as populações residentes para aplicar medidas de conservação, mas o que tem acontecido é muita falta de abertura dos responsáveis pelas áreas», acusa José Maria Saraiva. De resto, o dirigente da ASE denuncia que as áreas protegidas estão a perder cada vez mais autonomia para Lisboa, quando devia ser ao contrário. «É mau sinal que se pense que podem ser geridas por computador», aponta.

Luis Martins

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