Já não se trata de comprar, mas sim de arrendar. A autarquia de Pinhel desistiu da compra da antiga fábrica de calçado «por falta de capacidade financeira», optando pelo arrendamento do espaço. A decisão foi aprovada, com os votos contra dos vereadores do PS, na última reunião de Câmara realizada na passada sexta-feira.
Em números, significa que a autarquia terá de disponibilizar 20 mil euros por mês durante pelo menos cinco anos, um valor semelhante àquele que teria de pagar se a aquisição da fábrica tivesse ido avante, embora com um prazo mais alargado de 30 anos. «A compra neste momento está fora de questão, na altura acordámos um valor de 4, 5 milhões de euros com o proprietário, mas não temos capacidade de empréstimo neste momento e decidimos arrendar por 20 mil euros por mês», explica o presidente da autarquia. Para António Ruas, esta parece ter sido a melhor solução, «dada a urgência que a Câmara tem de espaços, especialmente com a dignidade deste». Quem não partilha da mesma opinião desde início do processo é o vereador Agostinho Monteiro. «Entendemos que a autarquia deve alugar os espaços apenas quando precisa. E este arrendamento é despropositado em relação às necessidades do município», garante o socialista.
Além disso, não deixa de criticar aquilo a que chama «falta de programa de atividades» para as instalações. No seu entender, os “fins” idealizados pela autarquia não justificam um encargo mensal tão elevado: «Alugar para ter um “armazém” parece-nos que não faz sentido», considera o vereador. António Ruas esclarece, no entanto, que além dessa função, as instalações também poderão «acolher empresas» que procurem a região. «Os “destinos” pensados inicialmente mantêm-se e o principal objetivo é a empregabilidade. Não vamos oferecer o espaço ao desbarato, exigimos às empresas interessadas garantias de emprego, desenvolvimento, criatividade e igualdade de circunstâncias com todos os nossos empresários locais», explica o autarca. Acolher a Feira das Tradições é outro dos fins idealizados para o local. Mas nem mesmo estes argumentos convencem a oposição, para quem este negócio significa «o assumir de um compromisso que vai criar problemas de gestão».
Pelas contas de Agostinho Monteiro, «isto obriga a que haja cortes em áreas mais importantes para o desenvolvimento do concelho». A compra da Rohde pela autarquia chegou mesmo a ser aprovada em reunião de Câmara em abril, também com os votos contra do PS. Para a concretização do negócio, faltava apenas um «parecer jurídico sobre a legalidade da compra», referia na altura António Ruas. Um parecer que não terá sido favorável à aquisição. «É lógico que arrendam porque não tinham condições para fazer essa compra, as finanças da Câmara não permitiam um endividamento tão grande», conclui o vereador da oposição.
Fábrica de calçado já não vem para Pinhel
Era uma das grandes intenções da autarquia: acolher nas instalações da Rohde uma nova fábrica de calçado, criada por uma empresa de Felgueiras que já se tinha mostrado interessada em escolher o concelho. No entanto, o projeto já não vai concretizar-se, pelo menos a curto prazo. Segundo António Ruas, «essa possibilidade está suspensa devido à conjuntura económica que se vive no país e o empresário meteu na gaveta essa atividade, nomeadamente o que tinha pensado para Pinhel». Na altura, para chegar a acordo com a empresa, a autarquia comprometia-se a garantir o local para a fábrica se instalar e a Rohde era um dos espaços pensados. A empresa criaria uma linha de produção com vista à exportação de calçado para o estrangeiro. Seriam criados cerca de 50 postos de trabalho, numa primeira fase.
Catarina Pinto