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Calor

Se tivesse que caracterizar este último ano numa palavra, escolheria “calor”. Os anos mais quentes desde 1949 foram, sucessivamente, 2003, 2004, 2005 e 2006. Este último tem a duvidosa distinção de exibir o Outono mais quente de que há memória, prolongado pelo início do Inverno. 2007 não começa melhor. Hoje, 2 de Janeiro, na Guarda, terra do gelo e do frio, estavam mais de 15 graus centígrados às duas da tarde. Dizem os cientistas que a temperatura média à superfície do planeta é de 14 graus. Que sentido tem então termos nós, no Inverno, uma temperatura superior à média?

Não é que tenha medo do calor, ou que tenha especial apetência pelo frio. Podia até dizer-se que assim iremos gastar menos dinheiro em aquecimento. A questão é que sinto que as coisas assim não podem acabar bem. Não é normal, nem bom, que se sucedam dias de geada a dias de sol e calor. Ou que a tradicional sucessão das estações deixe de ter sentido.

Há estudos que prevêem que daqui a poucas décadas o sul da Suécia venha a ter um clima equivalente ao do nosso Algarve. Nessa altura, o Algarve (e o resto de Portugal) serão prolongamentos do deserto do Sahara. Por então, terão desaparecido os últimos recifes de coral, onde se alojam ainda milhares de espécies e onde garantem hoje a subsistência milhões de pessoas. Entretanto, as águas dos oceanos terão subido à custa dos últimos glaciares e das últimas plataformas de gelo do Árctico e do Antárctico (há neste momento um bloco de gelo de mais de 50 quilómetros quadrados à deriva no Atlântico, depois de se ter desprendido de uma dessas plataformas).

Esta situação, que configura um gravíssimo problema, impõe duas perguntas: O que causa isto?; o que podemos fazer para o parar?

A resposta à primeira pergunta não tem consenso, ao menos entre os políticos, mas os cientistas apontam o dedo aos gases que provocam o efeito de estufa (que consiste em ficar retido pela atmosfera o calor recebido do Sol) e, em primeiro lugar, o CO2 (libertado sobretudo com a queima de combustíveis fósseis, incluindo derivados do petróleo e carvão mineral).

A resposta à segunda é simples: caso o aquecimento global seja provocado pelos gases com efeito de estufa, há que parar a sua emissão (mesmo assim, dizem, há já consequências irreversíveis). Dizem que há que reduzir já em setenta por cento essas emissões, de forma a prevenir-se uma catástrofe. O problema é que, por exemplo na China (que não respeita o protocolo de Quioto, tal como os EUA), a maior parte da energia eléctrica é produzida a partir de carvão mineral, o combustível mais poluente. Outro problema, para o qual ninguém apresenta uma solução, é que o respeito por essas recomendações implicaria uma crise económica devastadora e global. O que resta? Esperar pelo melhor, na ilusão de que os cientistas estejam errados, e tentar fazer o que é possível, caso infelizmente tenham razão.

Sugestões:

Um livro: Os Senhores do Tempo (Tim Flannery, Presença 2006). O impacto do homem nas alterações climáticas é muito superior ao que pensa George W Bush (ou os governantes chineses, ou indianos, ou brasileiros, ou russos, ou…).

Por: António Ferreira

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