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Caldeirada

Observatório de Ornitorrincos

No próximo sábado a União Europeia vai aumentar 66% o número dos seus membros. Muito mais do que o aumento de vendas do Expresso desde a semana passada, muito menos do que o meu aumento de peso desde que nasci. Vão entrar no exclusivista clube europeu dez países do Leste da Europa. E a razão é simples, embora ninguém tenha tido coragem de a assumir até hoje: é que mais a Oeste dos que já são membros não há nada – para Oeste da UE só o Atlântico e as Caraíbas. Ou seja, água e um paraíso sexual. Por isso, o alargamento a Oeste seria uma idiotice ou uma aventura. A Europa está velha demais para a segunda e é pouco ambiciosa para a primeira.

As fronteiras da União irão agora estender-se do Atlântico à Rússia, do Mar do Norte ao Mediterrâneo. Ficam a faltar os maricas dos suíços, os noruegueses pespirrentos, os pequerruchos do Liechtenstein, os cowboys da Jugoslávia, os ciganos albaneses e os borracholas dos russos. No fundo gente que não interessa nada a esta grande união civilizacional muito etnicamente fechada de polacos, cipriotas gregos, dinamarqueses e portugueses. Não deve haver problema. Nos EUA, o candidato democrata às eleições também vive no mesmo país de John Kerry e não consta que tenha havido alterações cósmicas. Agora é tempo de festejar o alargamento e começar a pensar em alargar horizontes – pornografia de Budapeste, putedo do Báltico, vodka da Polónia e férias em Nicósia. E se sobrar tempo, uma visita a Praga, cidade em que até as mulheres são monumentos.

O pior deste alargamento é a mania da Comissão em retirar a Portugal fundos de coesão para construir estradas e querer investir apenas na formação científica dos portugueses. Se eu mandasse, pedia excusa deste QCA por motivos de idiossincrasia cultural. Ensinar os portugueses a estudar e investigar? Para produzir ciência e conhecimento? Isso é que era bom. Querem resultados, venham cá esses langões do norte trabalhar para isso, ora essa!

EU VI UM ORNITORRINCO

O passado fim-de-semana foi revolucionário, evolucionário ou devolucionário, consoante se caminhe da esquerda para a direita do espectro político (é curioso como se usa uma palavra que é sinónima de “fantasma” ou “ameaça” quando se fala dos vários partidos políticos). Durante esses dias pude apreciar um vasto leque de ornitorrincos que se passearam alegremente pelas ruas, pelas televisões e pelos jornais. São designados genericamente por “gajos de esquerda”, embora haja subespécies mais perigosas e outras totalmente inofensivas. Usam todos uma forma de tratamento impessoal – “pá”. “Pá” é uma abreviatura de “patusco”, um grupo especial de ornitorrincos que se costuma agrupar, como o nome indica, em “patuscadas” – uma espécie de ritualização colectiva com muita carne e muito vinho.

Encontramos na teoria antropológica clássica de Malinowski a explicação da importância das “necessidades instrumentais” para os “gajos de esquerda”: economia: tudo do Estado; controle social: toda pelo Estado; educação: toda no Estado; e organização política: eles serem o Estado. Não é disparatado aproveitar também as propostas de Radcliffe-Brown para observar como a espécie aborda a irrelevância do indivíduo para se perceber a forma como o in-group esquerdistas encara todos aqueles do out-group.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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