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Calçadas Romanas?

Nos Cantos do Património

Com o domínio romano um dos instrumentos na organização administrativa do território da Península Ibérica foi a construção de calçadas, primeiro com uma função militar e posteriormente também com funções administrativas e comerciais.

Eram importantes construções, que envolviam um elevado esforço, mais ainda se tivermos em consideração a cultura existente. Não obstante, também em épocas posteriores se consideraram notáveis construções, por vezes associadas ao sobrenatural, como indicam topónimos como a calçada dos Galhardos.

Cedo se generalizou a ideia que todas as calçadas romanas teriam quatro camadas construtivas. De facto, actualmente considera-se que as calçadas teriam diferentes formas construtivas, relacionadas com a geomorfologia do terreno. Certamente uma calçada em área montanhosa necessitava de melhor construção, com lajes, muros de suporte e escoamento de águas.

Identificadas como importante meio de desenvolvimento e controle administrativo e militar de um território, certamente em Época Medieval e mesmo na Época Moderna verificaram-se obras de reconstrução das calçadas romanas. Contudo, também se verificaram novas construções, por vezes com técnicas antigas nestes períodos. Durante o domínio filipino ocorreram grandes construções viárias, visando dotar o território de uma vasta rede de vias de comunicação. Um dos melhores exemplos corresponde à ponte filipina de Valhelhas, cuja construção remonta ao século XVII, atestado no documento de contrato de construção da mesma.

Um dos meios de comprovarmos se uma calçada remonta ao período romano prende-se com as fontes contemporâneas, nomeadamente documentos como o Itinerário de Antonino. Contudo, a área da Beira Interior, como outras áreas do nosso território, não são mencionadas.

Por outro lado, a epigrafia poderá surgir como identificador. A descoberta de miliários romanos, colocados ao longo das calçadas, de milha em milha, com a indicação de distâncias poderá trazer novidades não só em relação às calçadas, mas também aos núcleos de povoamento nas suas imediações.

Foi através da epigrafia e vestígios romanos que se identificou o traçado da via romana que ligava Emerita a Bracara, cujo percurso passaria pela Serra da Estrela, tendo sido identificados diversos miliários na área de Valhelhas e Famalicão.

Quando estes elementos não se encontram descritos é complexo definirmos uma calçada como romana. Trata-se de uma questão complexa e problemática. Até ao momento em que surgem indícios seguros de período romano, será mais correcto referirmo-nos a calçadas antigas.

Esta indicação a calçadas com uma cronologia indeterminada não lhe retira a sua importância histórica. Podem datar do I ou do II milénio, ambas são importantes, que mais não seja como marcos na ocupação territorial.

Por: Vítor Pereira

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