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«Cada pessoa tem o seu peso profissional no filme e uma percentagem do seu orçamento»

Cara a Cara – Entrevista: Telmo Martins

P – O que representa para a sua carreira a realização de “Um funeral à chuva?

R – A partir do momento em que decidi trabalhar na área do cinema sabia que o topo era uma longa metragem. Nesse sentido, este projecto é o atingir de um objectivo que eu e a equipa que trabalha comigo nos propusemos há quatro anos.

P – Quais foram as principais dificuldades que surgiram ao longo de todo o processo de elaboração do filme?

R – As dificuldades de se fazer uma longa metragem sem apoios financeiros ou subsídios passa sempre por arranjar algum dinheiro. Embora se pense que este filme foi feito a “custo zero”, há sempre custos mínimos que têm que ser assegurados. Não foi propriamente um milhão de euros, que é quanto custa normalmente uma longa metragem, mas estamos a falar de cerca de 80 mil euros. Por outro lado, a falta de dinheiro provoca outra dificuldade que é a falta de tempo, que nunca é aquele que se queria para atingir a excelência. Agora, toda a equipa se dispôs a trabalhar de forma gratuita e decidimos que o filme seria de todos. Nesse sentido, cada pessoa tem o seu peso profissional no projecto e uma percentagem calculada dentro do seu orçamento. Ora, os lucros que o filme tiver serão distribuídos percentualmente por todos, tendo em conta este pressuposto. Esta situação acabou por ser uma vantagem para o projecto, já que é de todos e representa um risco por parte de todos.

P – Ainda assim, não é muito vulgar esta situação dos profissionais não cobrarem nada pelo seu trabalho. Como conseguiram chegar a este entendimento?

R – O cinema em Portugal é uma área de trabalho bastante complicada de se conseguir entrar, porque não há o hábito das pessoas irem ver filmes. Nesse sentido, é difícil tornar o cinema em algo comercial e rentável. Por cá, esta área funciona muito à base de subsídios e nós ainda não teremos muito currículo para os receber. Ora, decidimos que, ou encontraríamos outra forma de trabalhar, ou teríamos que esperar muito tempo até conseguir um subsídio. Pelo lado dos actores, acabou por ser uma aposta profissional, porque se correr bem ficam associados a um bom filme e ainda poderão ter algum retorno financeiro. Este foi o processo “criativo” que encontrámos para produzir um filme e fugir às adversidades que o mercado tem nesta área neste momento.

P – Como conseguiram pôr o filme nas salas de cinema de todo o país?

R – Depois do termos o produto final, reunimos com algumas distribuidoras e a ZON-Lusomundo achou que o filme tinha a qualidade suficiente para ser distribuído por eles e predispuseram-se logo a exibi-lo nas suas salas de cinema.

P – O filme foi todo rodado na Covilhã e na Serra da Estrela. Considera que poderá ser também um veículo de promoção da região?

R – O filme acaba por ser um “hino” ao interior. O cinema é um veículo comercial brutal, através do qual as pessoas conhecem locais onde nunca estiveram fisicamente e realidades que nunca viveram de perto. Desse ponto de vista acho que pode projectar a Covilhã, a Serra da Estrela e a própria “interioridade” e a força e genuinidade das pessoas que aqui vivem.

P – Que novos projectos tem a Lobby Productions em vista?

R – Futuramente queremos fazer uma longa metragem em 3D estereoscopia.

Telmo Martins

«Cada pessoa tem o seu peso profissional no
        filme e uma percentagem do seu orçamento»

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