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Cabras sapadoras

1. A valorização do interior, enquanto instrumento político inscrito no Programa do Governo, assume-se como um aspeto central do desenvolvimento económico e da coesão territorial.

Suster o acelerado processo de empobrecimento e despovoamento dos territórios rurais é o desígnio do Programa Nacional para a Coesão Territorial, uma meta que todos ambicionamos alcançar, seja qual for o instrumento que propomos, Estatuto dos Territórios de Baixa Densidade, Movimento pelo Interior, Unidade de Missão para a Valorização do Interior.

Deixámos alimentar uma visão errada sobre esses territórios, seus agentes e populações, que apouca, desqualifica e desvaloriza as suas potencialidades.

Gerou-se um ciclo vicioso assente numa conceção negativa e fatalista do desenvolvimento, condenando o interior ao subdesenvolvimento.

Menos emprego, mais emigração, maior envelhecimento, menos população, menor consumo, menor investimento, menos serviços públicos, etc, etc,…

Precisamos todos de ter a ousadia, a coragem politica mesmo, de alertar que a saída para a nossa realidade atual não pode passar, não passa, por receitas velhas que já mostraram a sua ineficácia no passado.

Este é o tempo de arriscar, de inventar novas soluções.

Está mais do que demonstrado que não é com meros incentivos fiscais que conseguimos contrariar a tendência de concentrar os investimentos no litoral.

A coesão territorial é uma verdadeira emergência nacional.

2. A presença do homem no território é decisiva para a prevenção e combate dos incêndios florestais e para todas as estratégias de valorização do mundo rural.

O processo de regresso à terra, com a atração de novos habitantes, projetos agroflorestais inovadores, o turismo da natureza, implicam uma visão global e integrada para o futuro. Não basta abrir candidaturas a fundos comunitários em terras onde já não há ninguém para concorrer.

Retomo a ideia de “projetos chave na mão”. Ninguém do litoral vem para o interior desconhecido, onde tudo lhe é estranho, sem terra para trabalhar, sem projeto para executar, sem apoio financeiro para investir. O Estado tem de criar condições para o repovoamento através de uma nova geração de políticas agrícolas.

Avançar, ainda este ano, com projetos-piloto de “cabras-sapadoras” com rebanhos dedicados à gestão de combustível florestal na rede primária é uma medida que só peca por tardia. Finalmente…

Vale mais tarde, do que nunca!

Por: Santinho Pacheco

* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda

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