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Brasil descobertas mil

Primeiro vieram as naturalizações que fazem com que neste Mundial praticamente todas as equipas disponham de jogadores naturalizados. Depois veio a moda dos treinadores que, por casmurrice ou vontade bacoca de afirmação, resolvem ignorar alguns dos melhores preferindo apostar “nos seus”. Nunca saberemos, por exemplo, se com Baía entre os postes teríamos vencido o Euro 2004.

A pré-anunciada eliminação da seleção nacional tinha sido, também ela, anunciada bem antes do começo do Mundial. Deixar de fora Quaresma, Antunes, Danny ou Adrien foi, não só uma injustiça, como um ato de boçal incompetência. Ter no banco William Carvalho, o melhor médio português da atualidade e talvez o melhor pivot de que a seleção já dispôs (Paulo Sousa, o melhor médio defensivo, não era pivot), está para lá da incompetência.

Há quem defenda que Paulo Bento é teimoso porque defende “os seus” e que isso também é uma virtude. Será? Tenho fundadas dúvidas. Li, algures, que a teimosia é, a partir de determinado ponto, quando se transforma em obsessão, um sintoma de distúrbio mental conduzido por uma qualquer fixação.

O selecionador fixou-se nos jogadores que chegaram às meias-finais do Europeu de 2012. Mas o futebol não é uma realidade estanque e o virtuosismo da passagem do tempo também afeta os futebolistas. A uns para melhor e a outros para pior, até ao ponto em que, tal como na curva de Laffer, a partir de certo momento é sempre a descer.

O selecionador cego e surdo ficou mudo quando instado a explicar as suas escolhas. Não as tinha. A seleção sou eu, presume-se da postura. Depois a comunicação social e os comentadeiros de serviço encarregaram-se de explicar que, escolhidos os jogadores, são eles os representantes de todos os portugueses, quais presidentes da República. Quem assim não pensa ou sente não é patriota e muito menos filho de boa gente.

Pois bem, não sou patriota. Não gostei da convocatória nem com ela me conformei. Também não gostei das escolhas para os onzes iniciais. Senti-me defraudado. Agora resta pedir a Paulo Bento que abra a pestana de uma vez por todas. Sim, o Quaresma e o Antunes não estão lá. Eles que seriam, neste momento, titulares de caras. Mas estão outros e é preciso pô-los em campo porque, olhando a história, um jogo de futebol ganha-se de muitas formas e com diferentes táticas, mas não se ganha sem correr.

Além da incompetente teimosia, desta viagem ao Brasil sobra outra descoberta que já tinha sido descoberta em 2002. A Federação não aprende com os erros. E não é por obstinação. É por vontade de ganhar umas coroas. Em 2002 foram as patacas de Macau. Doze anos volvidos são os dólares norte-americanos de Newark. Enquanto a Federação compõe as contas, os jogadores ficam a contas. Contas com a arbitrariedade e a falta de zelo. Depois, os treinos à porta aberta e as bolas da Miss Bumbum são como as guerras contra o Tribunal Constitucional. Distraem mas não enganam. Contas feitas, repete-se uma história mil vezes vista e contada.

Por: David Santiago

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