Voluntários exigem cumprimento das reivindicações da Liga caso contrário ponderam não participar no dispositivo de combate a incêndios do próximo Verão.
O ultimato ao Governo foi feito e, caso as reivindicações do setor não sejam acatadas, as 23 corporações da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda (FBDG) não integrarão o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) de 2018. A decisão foi tomada por unanimidade numa reunião da direção da FBDG, realizada no dia 19 em Celorico da Beira, após a análise das deliberações aprovadas pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) no Conselho Nacional de Palmela.
Em declarações a O INTERIOR, o presidente da Federação confirma que, caso o Governo não considere os pedidos do setor, «não estaremos disponíveis para fazer o DECIF 2018, nomeadamente no que concerne aos GRUATA (Grupo de Reforço para Ataque Ampliado), GRIF (Grupo de Reforço para Combate a Incêndios Florestais) e CPO (Comandante de Permanência às Operações)». Paulo Amaral adiantou que as associações humanitárias também estão a equacionar não participar nos ECIN (Equipa de Combate a Incêndios Florestais) e a «onerar a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) com o apoio logístico (alimentação e combustível), durante o DECIF 2018, responsabilizando aquela entidade pela prestação do mesmo». Sem adiantar os números globais do distrito, o dirigente garante que os pagamentos de combustíveis até novembro continuam em atraso. «Como se depreenderá facilmente, as associações estão a suportar economicamente uma competência que é da responsabilidade da ANPC e do Governo», considera Paulo Amaral, esclarecendo que a possibilidade de não integrarem o dispositivo «é uma medida de força para dizer que os bombeiros do distrito e do país não estão satisfeitos» com o que está a acontecer.
Ainda assim, o dirigente esclarece que as corporações do distrito da Guarda vão, «como sempre», cumprir a sua «nobre missão» de proteção de pessoas e bens: «Os bombeiros foram criados e emanados da sociedade civil. Não deixarão de estar presentes nos seus concelhos para responder cabalmente às ocorrências que vierem a surgir no âmbito da proteção e do socorro», assegura o presidente da Federação, para quem é incompreensível que o «“braço armado”» da Proteção Civil não tenha a «consideração e o respeito» que merece. «Vemos com alguma tristeza que continuamos a ser os parentes pobres», lamenta Paulo Amaral, lembrando que os voluntários garantem «mais de 87 ou 95 por cento de toda a intervenção» feita no país. «Gostaríamos de ver reconhecida a força destes homens e mulheres que, generosamente, a troco de um pequeno apoio, salvam vidas e estão no terreno para ajudar a que o país seja melhor», destaca o dirigente, segundo o qual «não fazemos mais nem menos do que reinvindicar o valor que merecemos».
Por isso, Paulo Amaral espera «uma resposta positiva» do Governo, pois «estamos convencidos que o bom senso imperará». Quanto às principais carências no distrito, o presidente da FBDG diz que a diretiva financeira, a aquisição de novos equipamentos e a criação de EIP (Equipas de Intervenção Permanente) em concelhos que já manifestaram essa vontade são alguns dos pontos a melhorar.
As reivindicações da Liga de Bombeiros
Do Conselho Nacional de Palmela saiu um documento intitulado “Análise e Proposta de Resolução à Atual Situação do Setor dos Bombeiros”, onde constam as exigências feitas pela Liga de Bombeiros Portugueses (LBP) ao Governo.
Entre elas, está o aumento (de 40 para 250) das EIP e o pagamento de 50 euros diários aos elementos que integrem o dispositivo. Os “soldados da paz” querem também uma resposta à criação da Direção Nacional de Bombeiros Autónoma, bem como de zonas operacionais e respetivos comandos. A negociação atempada com a Liga e consequente aprovação das Diretivas Operacional e Financeira para 2018, onde devem constar os valores de reposição de veículos acidentados ou perdidos em serviço, são outros dos anseios defendidos. No documento é ainda exigido que seja declarado o Dispositivo Nacional de Proteção e Socorro o ano inteiro, a revisão do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro, um esclarecimento sobre os cortes nas verbas para viaturas e quartéis, formação em fogo controlado, análise de incêndios e fogo de supressão. Os voluntários ambicionam também a aprovação do Cartão Social dos Bombeiros e a atribuição da categoria de risco à profissão e a sua inscrição no catálogo das doenças profissionais. E a alteração para 25 por cento ao ano na bonificação da contagem de tempo de serviço para a reforma, a não representatividade dos bombeiros pela ANPC e que a Escola Nacional de Bombeiros não seja incluída na rede pública de ensino, passando a ser um Instituto Privado de Ensino Superior.
Sara Guterres