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Bombeiros ameaçam acabar com equipas de primeira intervenção

Autarquia deve cerca de 200 mil euros de subsídios à Associação Humanitária dos voluntários da Guarda e não paga a parte que lhe compete dos ordenados dos elementos destes grupos de atuação rápida

Tal como no ano passado, a Câmara da Guarda voltou a estar no centro das atenções das comemorações dos 135 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses. E novamente pelos piores motivos: uma dívida de cerca de 200 mil euros por subsídios em atraso que pode pôr em causa a operacionalidade da corporação.

Desta vez, Álvaro Guerreiro, que cumpre o seu último mandato na presidência da direção, foi direto ao assunto. «A mim, as explicações já não me servem, o que me interessa são respostas concretas à falta de pagamento de subsídios desde o final do primeiro trimestre de 2009», declarou, garantindo que nesta situação «ninguém consegue gerir seja o que for». Muito menos a equipa de primeira intervenção. É que os metade do salário dos seus elementos está a ser suportado pela Associação Humanitária, «mas o compromisso foi assumido pela Câmara», adianta. Segundo o dirigente, o restante tem sido pago «pontualmente» pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), que já oficiou o município a saber o que se passa. «A autarquia já liquidou três meses, mas entretanto tivemos que pagar junho, julho, o subsídio de férias e agosto. Assim não dá, pelo que já informámos a ANPC e a Câmara que, se a situação não for ultrapassada, não temos mais capacidade para continuar a pagar a estes homens e teremos que rescindir os contratos de trabalho», assumiu Álvaro Guerreiro.

O responsável realça que o incumprimento da edilidade está a gerar um sufoco financeiro sem precedentes, ao ponto de poder comprometer a compra de uma viatura de combate a fogos urbanos, uma velha ambição da corporação comandada por Luís Santos. «Temos uma candidatura aprovada para um carro que custa 150 mil euros, só que neste momento não temos dinheiro para comprar um veículo que tanta falta faz aos bombeiros da Guarda», declara o presidente da direção. O mesmo já não aconteceria «se tivéssemos auferido da Câmara os 200 mil euros que nos são devidos, chegava e sobrava para pagar a nossa comparticipação», lamentou. Pelo mesmo diapasão afinou Duarte Caldeira. O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) avisou que «não poderemos aceitar que o socorro dos cidadãos protagonizado por esta associação seja sempre remetido para uma escala de prioridades que não é a adequada nem consonante com a grandeza e a importância da sua missão».

O dirigente disse não ser «admissível continuarmos a ter protocolos e acordos que não são cumpridos sem que haja consequências para alguém – além dos bombeiros, que têm que se substituir à autarquia». Pediu, por isso, que, a par dos dos elogios, «precisamos de uma co-responsabilização ativa e materializada em compromissos exequíveis e cumpríveis». O caso levou mesmo Duarte Caldeira a declarar que Governo, municípios e voluntários só poderão protagonizar «o futuro do socorro e a missão dos bombeiros se estas três artes funcionarem harmonicamente», sendo que cada uma terá que assumir as suas responsabilidades «em tempo útil». Presente na cerimónia, o vereador Vítor Santos esclareceu a situação dizendo que «não está em causa o pagamento, mas sim o momento em que poderá ser efetuado». Contudo, o autarca acrescentou que o município não deve só aos bombeiros da Guarda. «A Associação Humanitária faz parte de um conjunto de associações e coletividades com subsídios em atraso», assumiu.

Vítor Santos considerou ainda que é tempo de «todos sermos realistas e procurarmos novos caminhos de gestão para encontrarmos pontos de equilíbrio». E não tem dúvidas que no futuro vai ter que haver cedências porque «só assim é possível criar sustentabilidade nestas associações humanitárias». À margem da sessão solene ficou também a saber-se que Luís Borges deverá ser proposto por Álvaro Guerreiro para a presidência dos bombeiros da Guarda. «Todos os elementos da atual direção estão preparados para continuar, mas cabe aos sócios a palavra final». A assembleia eleitoral deverá ocorrer até ao final do ano.

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