Um jogador profissional de futebol é, para muitos, um oxímoro. Há quem considere incompatíveis as práticas lúdicas com o desempenho de uma profissão paga. Não penso dessa forma. A ser assim, a prostituição seria apenas o hobby mais antigo do mundo. O futebol é apenas um dos trabalhos, a par da ginecologia e dos porteiros de discoteca, em que uns trabalham onde os outros se divertem. Há, obviamente, os praticantes amadores, que têm prazer mesmo em terrenos mais escorregadios e lamacentos, nas condições mais adversas. No futebol é igual. Os campeonatos amadores, a sueca e os piropos do andaime fazem parte de uma longa lista de actividades lúdico-competitivas das classes populares que merecem a atenção de estudiosos da etnografia e de reportagens de Joana Latino.
Embora a progressão no jogo da bola no pé se faça automaticamente de escalão em escalão a cada dois anos, os candidatos a jogador de futebol devem ter presente que, no âmbito do desporto profissional, ser militante de um partido ou amigo de ex-primeiro-ministros não garante a assinatura de contratos.
O futebol tem também o seu lado humanitário. Veja-se a quantidade de refugiados sérvios e argentinos que Jorge Jesus tem acolhido nos balneários dos clubes que treina.
A classificação etária no mundo futebolístico é bastante precoce. Um jogador chega a sénior com 18 anos, enquanto um cidadão, só depois do 65. Segundo o mesmo raciocínio, um indivíduo pode ter 30 anos, viver com os pais e ainda se achar um jovem, mas um futebolista com 17 anos já não tem idade para ser juvenil. Esta fulminante ascensão pela carreira faz dos jogadores profissionais seres humanos bastante precoces. Quase todos têm filhos antes dos 25 anos e a grande maioria casa-se logo, passados dois ou três anos. Logicamente, antes dos 40 estão reformados da profissão e reconvertem-se em treinadores do Arouca, comentadores da Sport TV ou maridos de modelos. Na verdade, a vida de um jogador de futebol é feita de muita aplicação e trabalho árduo, nomeadamente nos treinos, nas concentrações e nas discotecas.
Apesar da inédita presença da selecção portuguesa no Campeonato da Europa já este mês, o futebol feminino não tem expressão profissional no nosso país. Embora as jogadoras possam optar por jogar em equipas profissionais do norte da Europa, a melhor maneira de uma mulher ganhar muito dinheiro com o futebol é engravidar para o Cristiano Ronaldo.
Por: Nuno Amaral Jerónimo