O Bispo da Guarda responsabiliza os trabalhadores da Misericórdia da Covilhã pelo impasse que a instituição está a viver. À margem da mensagem de Natal, e interpelado pelos jornalistas, D. Manuel Felício não foi brando nas suas primeiras declarações sobre o caso.
«O anterior provedor tinha várias soluções, não teve foi a colaboração a que tinha direito da parte dos trabalhadores. E se eles se negam a colaborar são responsáveis pelo que possa vir a seguir, até por perderem o seu emprego», avisou, acrescentando que, se isso acontecer, «ninguém pode culpar seja quem for porque eles são responsáveis pelo que se está a passar». A mesa administrativa da Misericórdia, presidida por Carlos Casteleiro e que tinha assumido funções no início de novembro, demitiu-se há três semanas depois dos funcionários terem recusado reduzir os salários em 10 por cento e um corte nos subsídios de férias e de Natal durante 26 meses. A medida destinava-se a sanear as contas da instituição sem recorrer a despedimentos. Dizendo que a Misericórdia não é a sua «maior preocupação», D. Manuel declarou que confia nos seus responsáveis para resolver «estas questões de gestão interna».
De resto, considerou que a instituição «não está, nem nunca esteve, em causa», pois está a reagir às dificuldades com a marcação de eleições. «Estaria preocupado se não houvesse eleições ou listas, porque o que importa neste momento é encontrar gente com capacidade para dar a volta à situação. Eu espero que sim», declarou. Usando uma linguagem de gestão, o bispo equiparou a Misericórdia a uma empresa que, como as restantes, «tem passivo e dificuldades». E especificou: «Neste caso, é uma empresa grande que emprega 150 trabalhadores e tem um volume de serviços assistenciais e de caridade considerável para a cidade, pelo que é normal que partilhe as dificuldades gerais que as empresas passam». Atualmente, a Misericórdia gere dois infantários, um lar de idosos e um centro de meios de diagnóstico de saúde, mas está em falência técnica apresentando um passivo de cerca de cinco milhões de euros.
Quem já reagiu às declarações de D. Manuel foi a União de Sindicatos de Castelo Branco, que lamenta que o bispo opte por «condenar os trabalhadores, que têm salários de miséria», em vez de esclarecer «as causas e os responsáveis» pela situação da Misericórdia. «Para o senhor bispo os patrões podem gerir mal e descapitalizar as empresas, podem meter-se em negócios ruinosos, podem encomendar estudos aos amigos pagos a peso de ouro que, depois, os trabalhadores pagarão a fatura mesmo que seja com trabalho escravo», acusa Luís Garra. O dirigente sindical lamenta que o prelado tenha omitido «as propostas construtivas» apresentadas pelos trabalhadores e considera «profundamente preocupantes» as palavras de D. Manuel. «Acreditamos que o bispo da Guarda não se revê na velha teoria do Cardeal Cerejeira, que dizia que o povo para ser humilde deveria andar a meia barriga», criticou.
Luis Martins
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