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Bernard Madoff

Bilhete Postal

A mistificação de personalidades, a mania de criar ícones de carne e osso, a necessidade de endeusar o humano e o animal são um prejuízo da estrutura organizacional da civilização humana. As pessoas tendem a pensar de si, que são insubstituíveis, que em determinado momento são a aurora ou a luz. De facto, há-os que, caindo em graça, são mais importantes que todos os outros, e com eles se fazem negócios, neles se depositam as nossas reservas, a eles se entregam poupanças. Madoff foi endeusado pelos ricos e houve quem desse milhares de euros para frequentar os lugares por onde Bernard passeava ou jogava golfe. Estas pessoas acreditavam que Madoff era digno e sério. Mas quem prova a dignidade e a seriedade de cada um? Quem nos garante que o regulador é credível? Porque temos reguladores e não mais alternativas? Afinal, em muitos lugares, os reguladores são gente que trepa pela força da amizade política e de algum currículo palpável. Mas depois vem o poder de dar emprego, de escolher as pessoas para os lugares e a força dos que sabem dizer não e a indignidade dos pagamentos de dívida. É assim que Madoff muda de presidente do Nasdaq (mercado electrónico de acções dos EUA) para o maior vigarista planetário. A sua seriedade conjecturada, a sua imagem de virtude construída, não são mais que os erros do paradigma anterior, aquele que se baseia nos abraços e nos favores e não no rigor dos números e das auditorias por quem é também auditado. Aliás o sistema ideal é o de uma fiscalização em vice-versa com tolerância total da leitura pelos vigilantes dos resultados. O maior erro do capitalismo está aí sob a forma de uma planetária D. Branca que, afinal, nos havia ensinado há umas décadas como tudo se fazia. Portugal sempre na vanguarda.

Por: Diogo Cabrita

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