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Belmonte com projecto de valorização da Quinta da Fórnea

Continuidade dos trabalhos arqueológicos e restauro e valorização das estruturas já identificadas são os objectivos

Passados 10 anos sobre a descoberta de vestígios cerâmicos romanos no local da Quinta da Fórnea, o município de Belmonte anunciou que vai continuar os trabalhos arqueológicos no local, bem como o restauro e valorização das estruturas identificadas nesta década.

É nesse âmbito que se colocará a descoberto a quase totalidade das estruturas ainda preservadas no subsolo, surgindo hoje o espaço como uma das poucas explorações rurais romanas escavadas, praticamente em toda a extensão, em Portugal. No próximo dia 29, o município pretende dar a conhecer este núcleo arqueológico, como mais uma oferta turística da região. A sessão terá lugar no sítio da Quinta da Fórnea, pelas 18 horas. Esta “villa” romana foi descoberta em 1998, durante a realização das obras do traçado da actual auto-estrada A23, e desde logo revelou um surpreendente estado de conservação, assim como um interessante espólio. A Quinta da Fórnea era uma grande propriedade, cuja datação poderá remontar aos séculos II a IV d.C., que albergou uma pequena comunidade auto-suficiente, constituída provavelmente por uma família, os parentes mais próximos e seus criados, durante um período de ocupação ininterrupta de cerca de dois séculos.

Localiza-se na parte oriental da Serra da Boa Esperança, sendo constituída pelos alojamentos do proprietário ou do feitor (pars urbana), pelos alojamentos dos trabalhadores (pars rustica) e pelo conjunto de edifícios necessários à exploração agrícola. Isto é, os celeiros, os lagares e adegas, os estábulos, as oficinas, os fornos de cozer pão, as pequenas unidades industriais e as lojas necessárias ao armazenamento de produtos e alfaias agrícolas (pars fructuaria ou frumentaria). A dividir as duas principais áreas está um caminho de grandes blocos de granito que realça a entrada principal da “villa” e o pátio, do qual se pode partir para a fundição, onde foram encontradas escórias de ferro resultantes do fabrico das alfaias agrícolas essenciais ao cultivo das terras. Noutro local foram descobertas duas mós e, semeados por vários sítios, meia dúzia de doleos, que mais não são que grandes potes de armazenagem de vinho e azeite.

Contudo, durante o período de escavações, houve outras descobertas na Quinta da Fórnea. Um bloco de telha, por exemplo, serviu para confirmar o método peculiar que os romanos utilizavam para cobrir as suas casas, recorrendo a enormes telhas, que pesam entre 15 a 20 quilos, e a telhas em meia cana, colocadas por cima. Parece ter sido este o caso da villa, dada a quantidade de sigilatos – considerada a cerâmica de luxo da altura – encontrados no local. Sinais de riqueza aos quais não serão estranhos a fertilidade agrícola das terras circundantes, bem como o oásis minerífico que sempre caracterizou aquela zona Norte da Cova da Beira. Já a única moeda achada na altura, um sestércio do tempo do Imperador Adriano, trouxe algumas dúvidas no que respeita à datação da villa, por ser a moeda corrente no século II d.C.. No entanto, os especialistas acreditam que apenas tenha chegado ao local mais tarde.

“Villa” romana foi descoberta em 1998 durante as obras da auto-estrada A23

Belmonte com projecto de valorização da
        Quinta da Fórnea

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