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Belmonte assaltada pelo passado

Aldeia Histórica recuou no tempo durante quatro dias por ocasião da terceira edição da Feira Medieval do Artesão

«O alcaide decretou que está aberto o mercado. Durante quatro dias, não serão tributados impostos e aqueles que faltarem às regras serão aqui mesmo justiçados. Agora ide, comei e bebei à tripa farra, e bailai se ouvirdes música».

O decreto, lido pelo mensageiro do alcaide-mor em frente ao castelo de Belmonte no sábado à tarde, não deixava margens para dúvidas. Estava aberta a terceira edição da Feira Medieval de Belmonte, antecedida apenas por um desfile de donzelas, nobres, cavaleiros, músicos e bobos pelas ruas da Aldeia Histórica até ao Largo do Castelo. Passava pouco das 18 horas, mas desde cedo que o espírito medieval começou a invadir o Largo do Castelo até ao pelourinho, onde foram montadas barraquinhas com artesanato e produtos regionais. Atrás das bancas, cerca de 60 artesãos de todo o país, vestidos a preceito, acrescentaram mais realismo a esta jornada que só terminou na terça-feira, dando vida a um verdadeiro mercado popular da época. Houve de tudo um pouco, desde queijos da Serra e enchidos, a fruta e legumes variados, passando ainda pela bijutaria feita à mão, artigos em cerâmica e barro, vassouras de palha, ervas e especiarias para curar todos os males, entre outros produtos.

Pela praça passearam figurantes, cavalos, bobos, dançarinos e músicos da companhia de teatro Viv’Arte, responsável pela animação do certame. Durante a noite, representaram-se duelos com lanças entre cavaleiros, um assalto ao castelo e uma sátira da Inquisição, enquanto a barriga ficou mais composta numa ceia medieval. «Animações completamente diferentes em relação ao ano passado e com histórias originais», disse Olivier Bidault, da Viv’Arte. Isto porque o castelo de Belmonte nunca foi atacado. «A única vez que o tentaram fazer raptaram a filha do alcaide, mas, mesmo assim, ele preferiu que a matassem a entregar o castelo. É uma história um pouco complicada para se fazer em público e não tem tanta piada. Por isso, preferimos inovar e criar uma história inédita», adiantou aquele responsável. O assalto ao castelo, na segunda-feira à noite, aconteceu na sequência do torneio. «O alcaide queria casar a filha com o vencedor. Mas o torneio não correu conforme pretendia e, por isso, tentou atacar o castelo para casar a filha com quem queria», acrescenta Olivier Bidault, que contou com mais de 80 actores nesta jornada.

Belmonte quer Feira como referência nacional

Já Amândio Melo, presidente da Câmara de Belmonte – que organiza o evento em parceria com a Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social – mostrou-se satisfeito com o sucesso da Feira Medieval ao longo dos anos, principalmente pela adesão do número de artesãos, que «aumentou quase para o dobro este ano». Apesar de considerar que o evento já está consolidado na região, o autarca disse haver ainda «mais para fazer» nos próximos anos. A ideia é transformar a feira «numa referência nacional», até porque o concelho tem «todos os ingredientes para tal», nomeadamente património cultural, turístico e gastronómico. «Com esta iniciativa estamos a promover Belmonte, como é óbvio, mas isto tem que estar associado a uma região que queremos divulgar em termos de conjunto», apontou o autarca, acrescentando que a visibilidade e sustentabilidade futura da região passa «com certeza» pelo turismo. Para o ano, o edil já garantiu uma nova edição num espaço ainda maior para acolher mais artesãos.

Liliana Correia

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