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Belezas

Corta!

De uma beleza exterior deslumbrante e cativante, Sin City é já considerada (por alguns) a melhor adaptação de uma banda desenhada para cinema. Obra de culto há já muito, os seguidores do mundo criado por Frank Miller dividiram-se com a boa nova. Entre cépticos e fãs de água na boca, a presença de Miller na partilha pela realização do filme juntamente com Robert Rodriguez (de Spy Kids e El Mariachi), e com uma ajuda do sempre bem-vindo pau-para-todo-o-serviço-que-se-mete-em-todas-e-não-resiste-nunca-a-experimentar-de-tudo-um-pouco Quentin Tarantino, fazia acreditar num resultado positivo. Fazia… porque, afinal, Sin City é pouco mais que fogo de vista.

Sin City irá certamente deslumbrar aqueles para quem o aspecto é mais que suficiente para justificar a classificação de genial, fabuloso e obra-prima. A fotografia do filme, e a forma como o filme se liga à sua origem artística, numa simbiose entre o desenho e a imagem cinematográfica nunca antes vista, é realmente assombrosa, mas não passa disso. E aquilo que é o principal trunfo do filme é também a sua principal fraqueza. A forma como o cinema vai aqui atrás da banda-desenhada que lhe está na origem, acorrentado a todos os seus pormenores, cativa pela diferença em relação a tudo o que habitualmente vemos numa sala de cinema, mas acaba por limitar em demasia tudo o resto. Personagens sem profundidade e diálogos que resultam muito bem se lidos mas acabam frouxos ali na tela, em voz alta.

Para quem desconheça o estilo de cinema que está na base, e influencia toda a obra de Miller, o film noir, tudo a esse espectador lhe parecerá cool e estimulante. Mas para os outros, habituados a Bogart e comparsas, homens de barba rija e gabardinas com muitas histórias para contar, esta cidade acaba por ter pouco de pecado e a bebida de eleição das personagens parece ter sido alterada. Whisky? Naaa… e que tal um copo de leite ou uma Coca-Cola? Diet de preferência.

Interior

E para além dessa beleza exterior pouco resta a Sin City que cative. Nas suas entranhas nada afinal se passa. Oco e perdido por entre tanta história que se quer contar, acabando por não contar nem dizer nada, é com muito receio que se recebe a notícia da preparação de mais dois filmes desta cidade onde o pecado se diz imperar.

Destaque para a muito acertada escolha de actores e sua caracterização. As semelhanças com as personagens originais, feitas de simples riscos e sombras, assustam quando se vê o seu resultado, de tão semelhante, em versão carne e osso. Pena que, para além disso, nada mais lhes reste. Autómatos retributivos, sem personalidade, sombras apenas numa cidade e estilo de filme onde essas mesmas sombras tanta importância têm. Mas tudo não passa de estilo. Sem mais nada. Fica o vazio.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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