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Beira Interior Norte pode perder 80 por cento da população até 2100

Região da Serra da Estrela também está entre as mais críticas

A Serra da Estrela e a Beira Interior Norte podem perder cerca de 30 por cento da sua população até 2040, conclui o projeto DEMOSPIN, apresentado recentemente no Fundão. Os principais “culpados” são a baixa fecundidade, os fluxos migratórios negativos e o envelhecimento da população, que não afetam todos por igual: «O problema é sobretudo regional, sendo que algumas regiões, em particular as do interior centro e norte, sofrem já de forma aguda dos três problemas», disse o coordenador do projeto a O INTERIOR.

Eduardo Castro, professor na Universidade de Aveiro, coloca as duas zonas – que integram Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Mêda, Pinhel, Sabugal e Trancoso – entre as cinco mais graves e no pódio das projeções mais preocupantes: «As projeções apontam para que, em 2040, as piores sejam o Pinhel Interior Sul, a Serra da Estrela, a Beira Interior Norte e o Alto Trás-os-Montes, por esta ordem», evidencia.

Baixa fecundidade é um dos principais problemas

As previsões apresentadas dizem respeito a populações fechadas, ou seja, sem migrações: «Sabemos da experiência passada e recente que, de forma geral, a tendência migratória é para a saída de população jovem, o que tornaria o quadro bastante pior», alerta o coordenador do estudo. Caso a tendência atual de evolução do índice sintético de fecundidade se mantenha, os resultados podem ser ainda mais graves: as cinco regiões anteriormente destacadas como as mais preocupantes correm o risco de chegar a 2100 com menos de 20 por cento da população que tinham nos Censos de 2011. Contudo, a recuperação desses índices para níveis de reposição geracional – ou seja 2,1 filhos por mulher – em 2030, permitiria alcançar populações estáveis e estacionárias em 2100.

Os jovens assumem aqui um papel importante: «Além de contribuírem para a perda de população quando saem, deixam-na mais envelhecida e diminuem o efetivo de mulheres em idade fértil», salienta o professor, entendendo que «a estimação para o futuro é uma consequência da atualidade». No entanto, a Cova da Beira (Belmonte, Covilhã e Fundão) «“porta-se” um pouco melhor por ter uma estrutura etária mais favorável», justifica. Já no que diz respeito a casos individuais, há um padrão que sobressaiu em alguns «estudos exploratórios a nível concelhio»: «Parece existir uma tendência para o reforço dos centros urbanos de maior dimensão e um esvaziamento ainda mais acentuado de outras áreas», indica, ressalvando que «por vezes também perdem, mas em menor percentagem, o que reforça o seu peso relativamente à população da região».

Para inverter este ciclo de perda populacional são necessárias «políticas capazes de reter e atrair população jovem, seja através da criação de emprego ou de condições para que haja qualidade de vida nas regiões», considera Eduardo Castro. «As políticas natalistas isoladas não surtem qualquer efeito», antecipa o responsável, alertando para a necessidade de fluxos imigratórios que compensem a perda populacional verificada no interior.

Sara Quelhas «As políticas natalistas isoladas não surtem qualquer efeito», avisa o coordenador de um estudo

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