A introdução de portagens tem-nos sido “vendida” como uma questão de justiça. Curiosa abordagem, curiosa porque a sua aplicação não é universal.
Permitam-me um pequeno exercício de retórica:
– a “justiça” de introduzir portagens em auto-estradas que servem toda uma faixa de território que durante anos foi privada destas infraestruturas, esbarra na manutenção de centenas de quilómetros de auto-estradas, IC’s e IP’s com o mesmo perfil, que servem as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
– a “justiça” de introduzir portagens numa região onde não existem alternativas, com exceção das velhinhas Estradas Nacionais, também não é de aplicação universal, porque quando as auto-estradas se localizam na faixa litoral as exceções criadas por falta de percursos alternativos mantêm-se.
Não importa se a culpa é dos inventores do conceito do “utilizador pagador” ou daqueles que em nome de um acordo político acederam à chantagem dos primeiros. Neste momento em que a introdução de portagens na A23 e na A25 se aproxima, esta é uma questão irrelevante, o que realmente importa é que o interior do país e as suas gentes estão de novo a ser tratado como Portugueses de segunda.
Ou será que em Lisboa os responsáveis dos diversos partidos políticos estão convencidos que o propósito para o qual as SCUT’s foram criadas já se cumpriu?
É certo que este Governo tem investido na Guarda como poucos outros o fizeram, veja-se o exemplo das obras do Hospital Sousa Martins e da Escola Afonso de Albuquerque, ou a ambicionada ligação em auto-estrada ao norte do distrito, podendo acrescentar a lista com obras menos significativas. Diga-se em abono da verdade que todos estes investimentos só serviram para nos compensar do tempo em que sucessivos Governos nada fizeram por este território.
No entanto este Governo, tal como todos os anteriores sem exceção, não tem apostado na criação de condições para que as empresas se possam fixar na região, sendo esse o nosso “grande” problema… Estamos encravados entre o Portugal de primeira, para o qual as agências criadas para atrair investimento trabalham em exclusivo, e a Espanha com uma política fiscal mais favorável.
As Zonas Francas têm por objetivo “…estimular as trocas comerciais, em certos casos para acelerar o desenvolvimento regional. São lugares onde o governo estimula a criação de empresas e indústrias com a redução dos impostos e ajudando com o capital financeiro”. Por questão várias, inclusivamente de ordem geográfica, a criação de uma Zona Franca não é aplicável à nossa região, no entanto a criação de algo com o mesmo objetivo é imperativo.
Este é um instrumento fundamental para poder manter vivo o interior, não pode ser um pedido feito ao Governo, tem que ser uma exigência. É a altura de também nós sermos dotados de armas capazes para podermos lutar contra os problemas que nos assolam.
É altura de dizer que não queremos ser portugueses de primeira só na altura de contribuir e continuarmos a ser de segunda na altura de beneficiar.
É altura de dizermos bem alto que aqueles, cada vez menos, que ainda resistem ao esvaziamento do interior e todos os dias lutam pela sobrevivência desta região, merecem respeito e oportunidades iguais.
É altura de exigir que as direções nacionais dos partidos olhem para o mapa do País e aprendam que aqui também é Portugal.
É altura de dizer BASTA!!!! E temos que o dizer bem alto e de forma convicta, porque se o não fizermos agora, cada vez seremos menos para o poder fazer.
Por: Nuno Almeida *
* presidente da concelhia da Guarda do PS
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