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Barómetro e dinâmica empresarial da Beira Interior

Por uma questão de enquadramento da problemática regional na nacional comecemos por apreciar os nascimentos, encerramentos e insolvências em Portugal. Os dados mostram que em 2015 nasceram 2,4 empresas e outras organizações por cada uma que encerrou enquanto em 2010, este rácio era de 2,1. As insolvências desceram pelo terceiro ano consecutivo, registando valores mais aproximados aos de 2010, com uma descida de 6,7% face a 2014.

Situação a nível nacional

O gráfico abaixo mostra que o pior ano de nascimentos de empresas em Portugal foi o de 2012 na vigência do anterior governo ano em que se criaram apenas 31404 depois de 35356 no ano anterior, ao mesmo tempo que esse foi também o pior ano em termos de liquidação de empresas (19094) e de insolvências (5929), isto olhando para o período 2010-2015.

Olhando para as tendências nacionais de nascimentos, encerramento e insolvências declaradas de empresas vê-se que ela é crescente de 2012 até 2015 (de 31404 para 37698) para os nascimentos mas de redução sustentada nas insolvências (5929 para 4192) e de decrescimento não sustentado (em 2015 face a 2014 houve um aumento de 540) dos encerramentos (19094-15541). As taxas de variação ou de crescimento das empresas nascentes em 2015 foi de +5.7% face ao ano anterior, de +3.6% dos encerramentos e de -6.7% das insolvências. Os sectores de atividade com maior dinamismo são, por ordem decrescente, os serviços, o retalho, o alojamento e restauração, a construção civil e as vendas por grosso. E isto quer em nascimentos, quer em encerramentos quer em insolvências. Em termos jurídicos a maior parte das sociedades criadas são em nome pessoal (unipessoais), em número quase igual ao das sociedades por cotas e quase o dobro das sociedades anónimas.

Evolução das trajetórias mensais

Comparando as trajetórias mensais ao longo do ano de 2015 constata-se uma situação preocupante já que de janeiro a dezembro de 2015 o número de nascimentos de empresas veio sempre a decrescer (de 4569 em janeiro para 2834 em dezembro) enquanto o número de encerramentos veio a crescer sustentadamente (de 1107 em janeiro para 2209 em dezembro). A trajetória das insolvências apresentou algumas oscilações mensais mas seguindo uma tendência mais ou menos estável ao longo dos 12 meses do ano.

Situação na Beira Interior e C. Branco, Cova da Beira e Guarda

Em dezembro de 2015 havia na Beira Interior 12820 empresas o que corresponde a 2.9% do total nacional, 6970 no distrito de CB (54%) e as restantes 5850 no da Guarda (46%). Durante dezembro de 2015 criaram-se na BI cerca de 73 empresas, mais 26% do que no mês homólogo do ano anterior (2014), das quais 47 foram em CB (+46.9% do que em dezembro de 2014) e 26 na Guarda, o mesmo número de igual mês de 2014. Aquele valor para a BI representa apenas 2.5% das 2834 empresas criadas nesse mês em Portugal.

Em termos de encerramentos em dezembro de 2015 na BI encerraram portas 66 empresas, cerca de 3% das empresas criadas em Portugal. Daquelas 71% foram criadas em Castelo Branco e as restantes 29% na Guarda. Em termos acumulados (todo o ano de 2015) criaram-se na BI cerca de 803 empresas 462 das quais em CB (58%) e as restantes 341 na Guarda (42%). Aquele valor da BI representa apenas 2.1% das empresas criadas em Portugal. Em termos de encerramentos e insolvências houve 473 empresas o que representa 2.4% do total nacional. Por cada encerramento de empresas nasceram 2.05 outras na Beira Interior, 2.2% em CB e 2% na Guarda, valores que comparam com 2.4 empresas criadas por cada empresa extinta em Portugal no seu todo.

Comentário final

Este último valor é mais um indicador preocupante para o interior do país (BI) porquanto traduz um agravamento da situação em termos de dinâmica empresarial para o interior, a somar entre outros ao envelhecimento da população e à desertificação crescente da Beira Interior face aos distritos do litoral agravando cada vez mais as assimetrias regionais sempre no sentido desfavorável ao interior. De referir que esta análise que aqui se deixa deve ser feita com cuidado porquanto acontece frequentemente fechar por exemplo uma empresa como as de cablagens ou call centers que deixaram o interior do país (BI), e que individualmente empregavam milhares de postos de trabalho, ainda que precários, mas isso não é comparável com a dimensão média das empresas que agora se criam que muitas vezes não passam de microempresas e/ou empresas familiares, as chamadas empresas de vão de escada, praticamente sem impacto ao nível da criação de postos de trabalho.

Por: José Ramos Pires Manso*

* Prof. Catedrático da universidade da Beira Interior e responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES) da UBI.

Sobre o autor

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