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Barca d’Alva “espanhola” por um dia

“Feira do Almendro” voltou a atrair milhares de pessoas à aldeia ribeirinha do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo

Quem não conhecesse Barca d’Alva e por lá passasse no último domingo ficaria, de certo, a pensar que tinha acabado de chegar a uma qualquer localidade espanhola. Como vem sendo habitual, a aldeia ribeirinha do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo foi “invadida” por milhares de espanhóis a propósito de mais uma “Feira do Almendro”.

Todos os anos, por altura das amendoeiras em flor, ainda para mais com o tempo de feição como sucedeu domingo, de autocarro ou de automóveis, a romaria está garantida. E o castelhano é a língua que mais se ouve nas ruas apinhadas de gente, tanto que encontrar um turista português pode revelar-se uma tarefa bem complicada. Com 30 anos, Raul Amaro, vindo de Aldeadavila de la Ribera, garante que não perde desde criança os festejos do Almendro (amêndoa em castelhano), uma tradição secular da localidade vizinha de La Fregeneda. «Há, pelo menos, 23 anos que venho a esta festa», contabiliza, enquanto empurra o carrinho de bebé do seu filho que já começa a seguir as pisadas do pai, que explica que «já são costumes de há muitos anos» que o fazem passar a fronteira até Barca d’Alva. Vindo um pouco de mais longe, também Ever Macias, residente em Salamanca, não perde uma “Feira do Almendro” em solo português há cinco anos. «Venho sempre para passar aqui o dia com a família», refere, acrescentando que o faz «por costume e tradição», mas porque a paisagem proporcionada pelas amendoeiras floridas é «sempre muito bonita».

Menos adepto de grandes confusões é Mariano Flores, outro cidadão salamantino que «só» vem a Barca d’Alva porque a sua esposa «insiste em vir», confessa. Depois de alguma insistência lá se conseguem ouvir alguns turistas portugueses. Oriundo de Lapa do Lobo (Canas de Senhorim), Herondino Monteiro não resiste «à beleza das amendoeiras juntamente com o rio Douro», mas também à gastronomia. «Esta zona tem uma vista maravilhosa. É um espectáculo digno de ser visto», recomenda, dizendo ter vindo com mais sete pessoas em duas viaturas particulares. Já o casal leiriense Noémia e Francisco Santos chegou numa das muitas excursões que nesta altura atravessam os concelhos durienses. Repetentes nestas andanças, apontam a «paisagem muito bonita» como o principal motivo que os levou a meterem-se à estrada, enquanto transportam sacos com «um bocado de presunto e um queijo da Serra».

Fracos negócios

Ainda assim, e apesar de ser difícil andar com tanta gente na rua, parece que o negócio já conheceu melhores dias, pelo menos, no que toca aos produtos tradicionais. O lamento ouve-se na banca de frutos secos e azeite de Carla Vianês, que, a meio da manhã de domingo, se queixava das vendas «fracas», embora estivesse «esperançada» de que pudessem melhorar durante a tarde. Os clientes, esses, eram maioritariamente espanhóis, indica a comerciante de Pinhel. Também descontente com o negócio, «muito fraco», estava Francelina Gonçalves, produtora de enchidos do Fundão. «Só se vende o mais barato, como os “queijitos” de quatro euros», lamentava-se. Orgulhosos com o reboliço da aldeia num «dia especial, fora do normal e o mais movimentado do ano» parecem ficar os seus habitantes. «Nascidos e criados» na localidade ribeirinha, os septuagenários António Macias e Cândida Geraldes garantem que, apesar de haver agora muitas terras a festejar as amendoeiras em flor, Barca d’Alva «é que foi a pioneira».

Já o presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo mostra-se satisfeito com a afluência de turistas, que «estão a chegar cada vez mais», estimando em seis mil as pessoas que viajaram até à aldeia duriense no domingo. Contudo, António Edmundo considera que «ainda não estamos preparados para vender produtos regionais aos espanhóis, talvez devido ao desconhecimento por parte dos agentes económicos», exemplificando com a necessidade de se apostar «em boas embalagens» que sejam «apetecíveis». No seu entender, trata-se de «uma caminhada que ainda tem que ser feita», uma vez que «muito do negócio que se faz na feira não valoriza muito a nossa região», pelo que gostaria que as pessoas tivessem uma oferta «mais exigente ao nível dos produtos endógenos e regionais».

Ricardo Cordeiro

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