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Aves que inspiram

Mitocôndrias e Quasares

As aves dominam o ar, embora sejam hábeis em terra e na água. Nenhum outro grupo de animais sobe tão alto, nidifica em regiões tão diferentes, ou desce a tão grandes profundidades quando mergulha no mar.

As aves sempre fascinaram o Homem, daí que estas, desde os primeiros seres humanos, têm marcado presença na arte e na literatura da maioria das civilizações.

As antigas sociedades transmitiram oralmente poemas, histórias e contos sobre as coisas más que as aves anunciavam. Nos dois poemas épicos do poeta grego Homero, a “Ilíada” e a “Odisseia”, os deuses são associados a aves: um mocho a Atena, deusa da sabedoria; um falcão a Apolo, deus do Sol; e uma pomba a Afrodite, deusa da beleza. Galos, grous, andorinhas, cegonhas, gaios, pavões, rouxinóis, águias e corvos, todos eles aparecem nas fábulas de Esopo, lendas da tradição grega oral de 8.000 anos. No Sukasaptati, obra indiana do século XI, um papagaio conta a uma jovem uma história diferente em cada uma de 70 noites consecutivas para a impedir de arranjar um amante enquanto o marido está fora. Nas peças de Shakespeare os corvos são frequentemente símbolos de escuridão e do mal, os pombos e os cisnes sugerem brancura e pureza e os rouxinóis evocam a calma e a beleza da madrugada e do crepúsculo.

Em muitas sociedades antigas as aves eram consideradas intermediárias entre o material e o espiritual e inspiravam admiração. Embora os povos antigos matassem aves pela sua carne e pelas suas penas, em geral faziam-no num contexto religioso, como uma manifestação de respeito e apreço profundos. Com a sua plumagem bela e vistosa, as suas danças nupciais e os seus elaborados rituais de combate, as aves inspiraram uma diversidade de danças em diferentes culturas. Em muitos casos eram danças de grande importância cultural e espiritual.

Olhemos, então, para alguns exemplos de referência a aves em diversas culturas e religiões espalhados um pouco por todo o mundo e que permitem constatar a importância das aves.

Cerca de 40 espécies de aves, na sua maioria pombos, são mencionados no Antigo Testamento. No primeiro livro, intitulado “Génesis”, Noé lança uma pomba em busca de terra após o Dilúvio. As pinturas rupestres e os antigos túmulos egípcios apresentam aves em interações comportamentais detalhadas. As aves são presença forte nas crenças religiosas de muitas culturas. O corvo é uma figura proeminente nas versões inuítes da criação do mundo; para os egípcios o íbis-sagrado era uma ave venerada; os maias consideravam o quetzal uma ave sagrada; os índios de Delaware (Estados Unidos da América) acreditavam que o mergulhão conduzia a terra os sobreviventes das inundações. São muitas as aves míticas que aparecem em lendas de culturas diferentes. A fénix, uma ave mítica que renasce das cinzas, protagoniza lendas de regiões tão distantes como o Egipto e a China. Para aumentar o seu poder, várias culturas tribais usavam penas nos seus tocados e no vestuário usado em cerimónias para fins comerciais. Por exemplo, na Europa, é tradição os cisnes-mudos pertencerem ao monarca e são designados de “ave real”.

Estes são alguns exemplos para despertar o interesse por estes seres vivos. Qualquer pessoa pode estudar estes animais, quer se trate de um observador de aves de fim-de-semana ou de um cientista investigador. Quanto melhor os conhecemos, mais fascinantes eles se tornam.

Por: António Costa

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