Arquivo

Autárquicas 2005-I

(Julgo que) Começo aqui uma série de artigos sobre as próximas eleições autárquicas na Guarda. Gostava, aliás, que este jornal fosse capaz, por intermédio dos seus cronistas, de imprimir a heterogeneidade de opiniões que o momento justifica e precisa. Gostava, também, que os candidatos entendessem estes lugares de opinião como um contributo à construção de um futuro melhor para este concelho, esta região. Que a discussão aberta ajudasse a definir caminhos reais, que os candidatos se arredassem do poder, que assumissem, com humildade e seriedade, que sabem muito pouco sobre o que será esta região amanhã, que é preciso trabalhar muito, que já não há tempo para experiências e que é preciso acertar já.

O panorama é assustador. A situação de crise que o país atravessa tem expoente máximo no interior. Penso até que os candidatos só podem ser adjectivados de corajosos, inconscientes ou levianos.

O pouco que nos foi dado a conhecer até à data não transmite grande confiança. As candidaturas surgiram em forma de grandes cartazes, em rotundas, à saída de hipermercados, no remate das ruas… O “amor” e a “inspiração” soam a poesia… soa-me bem melhor a “preocupação”.

O PS apareceu com serenidade, com um discurso suportado por vectores estratégicos, mas depois silenciou-se. Está arrítmico na comunicação ou, talvez, pouco inspirado.

O PSD apareceu, na passada semana, mais populista que nunca… mais ressabiado do que demonstrando amor, com um discurso de destruição do passado mais do que de construção do futuro, do qual nem o D. Sancho se livrou. Duas bandeiras hasteadas: um cartão social municipal e um recinto de feiras renovado. A grande falácia: fazer desaparecer os perímetros urbanos das aldeias (erro grave) que ficarão ligadas entre si por novas estradas (objectivo incerto). Podia jurar que Dias Loureiro corou no discurso de apresentação da lista. Não é para menos.

Os partidos mais pequenos, PP, Bloco de Esquerda e CDU, menos assolados pela comunicação social e sem pretensões de alcançar a ribalta, aparecem mais descomprometidos mas nem por isso mais afirmativos.

Sabemos todos que é necessário apostar numa estratégia de marketing para ganhar eleições e não quero concluir já a veracidade da citação de José Gil “Em Portugal não há drama, tudo é mentira e trama” mas, se continuam só por aí, acho que vão asfixiar-nos com tanta vacuidade. E este silêncio quase generalizado não auspicia nada de bom.

Mas voltando atrás, e porque quero acreditar que há coragem nestas candidaturas, aconselho a procura de soluções credíveis num ambiente apolítico e plural. Como?

1. Lanço à direcção deste jornal, já familiarizada com algumas acções inéditas, o repto de organizar debates semanais, envolvendo cidadãos e candidatos;

2. Lanço aos vários partidos, que tenham feito o trabalho de casa, o repto de trazerem ao fórum um diagnóstico real do concelho, a todos os níveis (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) com dados qualitativos e quantitativos;

3. Lanço à actual câmara o repto de mostrar em debate as acções em curso, as que já estão comprometidas e as que estão simplesmente programadas;

4. Lanço aos cidadãos o repto de se envolverem incondicionalmente nestes fóruns, de assumirem a sua co-responsabilização neste processo de construção do nosso próprio futuro.

Por: Cláudia Quelhas

Sobre o autor

Leave a Reply