Dizia um barão do petróleo do Texas, nos anos vinte, a um entrevistador: “o melhor é não pedires dinheiro emprestado aos bancos; mas, se tiveres de o fazer, então pede mais do que podes pagar: o banco não se poderá dar ao luxo de pedir a tua falência” – e vai continuar a emprestar-te dinheiro para o evitar, diria eu. Ele, na sua sabedoria rústica, tinha razão. Como dizia alguém (não me peçam nomes, que a memória hoje não ajuda nos detalhes): “se devemos pouco dinheiro ao banco e não podemos cumprir, temos um problema; se devemos muito, então é o banco que tem um problema”. Sábias mas cínicas palavras, que têm em comum a temível ideia de incumprimento assumido.
Podemos começar a habituar-nos a essa ideia. Cada vez serão mais os que não podem cumprir e que vão arrastar, com eles, incumprimentos em cadeia. Podemos resumir tudo isto: “Não te pago porque não me pagaram também a mim, e tu não vais pagar a outro por minha causa”.
Nota-se uma atitude totalmente diferente perante o passivo, se compararmos a de um empresário com a de um autarca. Este apenas quer saber de formas de ultrapassar os limites de endividamento da sua autarquia. Na maior parte dos casos não quer saber de soluções para o pagamento da dívida, nem se assusta com as consequências do incumprimento das obrigações que assumir. O dinheiro não é dele e sabe que, se tudo correr mal, lá teremos o governo central a intervir e a evitar a falência do município. Há outra coisa: ele só está à frente da autarquia meia dúzia de anos. Não lhe importam muito as consequências das dívidas que criar porque vão ser pagas pelos seus sucessores e, entretanto, vai ficar para a posteridade a sua, chamemos-lhe assim, obra. Se tiver de oferecer emprego a meio mundo, também não há grande problema nisso, que cada novo funcionário da autarquia é um eleitor potencial – e consigo vai trazer mais eleitores.
Já um empresário tem outras dificuldades: o seu limite de endividamento está rigorosamente controlado pelos bancos, a quem vai ter de provar, como se diz ironicamente, não precisar do dinheiro que está a pedir emprestado. Se por qualquer razão não puder pagar, vai ter de se defender em tribunal e, se os seus credores não acreditarem na possibilidade de cumprimento, alguém pedirá a falência. Na sua empresa, se a gerir bem, não terá postos de trabalho redundantes e procurará eliminar os que o forem. Bem podem pedir-lhe empregos para os afilhados e partidários, que ele só vai estar interessado nos que trouxerem mais rentabilidade à empresa. Não lhe peçam também obras apenas de fachada, que ele só vai querer investimentos com retorno previsível, mesmo que indirecto.
É claro que também há empresários que são um encargo para a sociedade, que procuram os subsídios em vez da produtividade e vêm em cada trabalhador um inimigo, que colocam o lucro acima de tudo o resto e que funcionam como predadores da sociedade, assim como há autarcas que criam os empregos e as oportunidades de negócio que o sector privado desdenha.
Crespo de Carvalho e Joaquim Valente vão ser os principais protagonistas das próximas eleições autárquicas na Guarda, que prometem ser as mais interessantes e equilibradas de sempre. E só temos a ganhar com isso.
Por: António Ferreira