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Autarcas defendem barragem no Alto Côa

Municípios de Almeida, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa juntam-se a Figueira de Castelo Rodrigo na defesa da cascata do Côa

Os autarcas de Almeida, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa defenderam quinta-feira a construção do aproveitamento hidroeléctrico do Alto Côa, juntando-se à pretensão de Figueira de Castelo Rodrigo que tem defendido a barragem de Pêro Martins, o mais imponente dos quatro empreendimentos projectados para a região. Esta posição foi assumida em Pinhel durante uma sessão de divulgação dos projectos do Alto Côa e do Baixo Sabor, promovida pela EDP no âmbito do discussão pública dos estudos de impacto ambiental. O único inconveniente apontado tem a ver com as termas da Fonte Santa, em Almeida, que poderão ficar submersas se o Governo escolher a primeira opção.

Para Abílio Teixeira, director da área de produção do grupo EDP, o objectivo é que um destes aproveitamentos entre em serviço «daqui a alguns anos», sendo que a produtora eléctrica assume a preferência pelo Baixo Sabor. «É um projecto que cumpre o mesmo tipo de objectivos e que, em termos de investimento, não é tão significativo como no Côa, embora também produza menos energia eléctrica. Mas em termos unitários, é mais interessante produzir energia no Baixo Sabor», sublinha, recordando que aquele empreendimento oferece um prazo de execução «mais curto» e investimento «reduzido». No entanto, a EDP espera que o Governo decida até ao final do ano, pois «já passou muito tempo desde o abandono da barragem do Côa e precisamos de saber com o que é que se pode contar nesta região», explica aquele responsável. E se a escolha recair sobre o Alto Côa, Abílio Teixeira perspectiva já desenvolvimento para a zona e o aproveitamento do turismo e da agricultura: «Fica aqui um plano de água com possibilidades para irrigação, abastecimento de populações ou o auxílio no combate a incêndios», antecipa, aludindo ainda à criação de 500 a 800 postos de trabalho durante mais de meia dúzia de anos.

Cenário que agrada sobremaneira aos autarcas directamente envolvidos. Ribeiro Batista, vice-presidente da Câmara de Almeida, está ciente disso, mau grado o empreendimento afectar as termas da Fonte Santa, que desaparecerão à cota de cheia máxima. «A Câmara já investiu ali um milhão de euros em equipamentos. Sabemos que poderá haver alternativas, nomeadamente a deslocação para montante, mas a nossa preocupação vai essencialmente para o destino do aquífero, pois não pode ser deslocalizado», avisa o vereador. De resto, a autarquia defende a construção da barragem do Alto Côa, pois terá «efeitos positivos» na região e é a que mais energia produz, enquanto os efeitos negativos nos solos serão mínimos. «Sabemos que são terrenos com fraca aptidão agrícola e que a área a inundar no concelho é diminuta, cerca de 116 hectares, pelo que a sua construção é de todo vantajosa», considera. Uma opinião partilhada por Sotero Ribeiro. O presidente do município de Foz Côa até reivindica a construção dos dois empreendimentos, alegando que as barragens são «fundamentais para a região e para o país». Como tal não será possível, a autarquia considera «importante» que o aproveitamento do Alto Côa se inicie primeiro.

Para António Ruas, edil de Pinhel, as vantagens são «muito maiores do que os impactos negativos» e, portanto, «venham já» as barragens para a região. É que através destes empreendimentos, «receberemos se calhar o dobro daquilo que recebemos actualmente do FEF e beneficiaremos com certeza as nossas populações», sustenta, lembrando que os municípios vão ter no futuro que arranjar alternativas de financiamento, pois os QCA’s irão terminar «mais cedo ou mais tarde».

Baixo Sabor em vantagem

De acordo com o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) que faz a “Avaliação Comparada dos Aproveitamentos do Baixo Sabor e do Alto Côa”, existem vantagens económicas se a barragem for construída no rio Sabor. O custo de construção será ali mais baixo, com um investimento a rondar os 250 milhões de euros, e, comparativamente, a produção de energia irá fazer-se de uma forma mais económica. O esquema de aproveitamento hidroeléctrico do Alto Côa envolve quatro barragens: os embalses de Pêro Martins e Senhora de Monforte, com as derivações complementares da ribeira de Massueime e da ribeira das Cabras. Já no rio Sabor a opção compreende 2 barragens, uma grande (que pode chegar aos 250 metros de altura) e uma pequena.

No entanto, a comparação não deixa lugar para dúvidas, uma vez que, tanto em impactos positivos, como negativos, o aproveitamento do Baixo Sabor é muito mais vantajoso e só terá contra si o facto de assentar sobre áreas naturais classificadas pela União Europeia. O estudo releva que o Sabor é mais vantajoso em termos hidrológicos, para além da barragem ficar pronta em finais de 2009, a tempo de contribuir para que o país cumpra as metas europeias de produção de energias renováveis. Acresce a estes argumentos que o custo de produção de um megawatt-hora (MWh) no Baixo Sabor seria de 98 euros, comparado com 125 euros no Alto Côa. Os autores do EIA comparam ainda os caudais na estação seca. Por exemplo, no mês de Julho há mais 30 por cento de água no rio Sabor e cerca de 15 por cento se a opção for para o Alto Côa.

Luis Martins

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