O presidente da Associação Comercial da Guarda (ACG) acredita que o aumento do IVA, de 21 para 23 por cento, pode contribuir para o encerramento de «muitas pequenas empresas» da região. «Vai haver uma nova Delphi a fechar. Essa Delphi é o conjunto de pequenas e médias empresas que podem não resistir a esta medida», avisa Paulo Manuel.
O novo ano traz aos portugueses facturas mais avultadas. Em alguns casos, a taxa de IVA sobe de 6 para 23 por cento. Este aumento, aliado a outras medidas de austeridade, leva Paulo Manuel a temer pelo futuro do sector empresarial da Guarda: «Há uma redução no poder de compra e haverá menos vendas, o que faz com que algumas empresas e comerciantes passem mais dificuldades, até mesmo porque a banca concede cada vez menos créditos». Na sua opinião, o comércio será afectado sobretudo na área dos bens não essenciais. «O calçado, vestuário e artigos desportivos são áreas que se vão ressentir», considerou. Adriana Morgado tem uma loja de roupa no centro histórico e a sua visão é mais animadora: «Acho que as pessoas não vão deixar de comprar por causa do aumento do IVA», acredita. Mesmo assim, a comerciante admite que já nota diferenças em relação a anos anteriores. «Agora, as pessoas compram apenas o que precisam quando antes compravam o que gostavam», exemplificou. Por enquanto, Adriana Morgado ainda não alterou os preços no seu estabelecimento.
No centro histórico da Guarda há vários empresários que nem sequer ponderam mudar os preços dos produtos, pelo menos durante os primeiros meses do ano. Nuno Pereira é dono de uma tabacaria na Praça Velha e diz que, por enquanto, não irá taxar a 23 por cento os artigos que já estão no estabelecimento. «Só vamos alterar quando chegarem produtos novos», explicou. Ana Adones, proprietária de uma loja de decoração, segue o mesmo caminho: «O que está aqui não vai ficar mais caro», garantiu. Outro comerciante da Praça Velha, que prefere não ser identificado, explicou que «dá muito trabalho alterar as etiquetas apenas por 5 ou 6 cêntimos», por isso, será ele a pagar a parte em falta do IVA. Com esta situação, «são os comerciantes que empobrecem mais», lamentou. Ainda assim, o proprietário desvaloriza a recente subida da taxa: «O que é relevante é o desequilibro entre o IVA de Portugal e o de Espanha [que é mais baixo], e nós somos afectados porque vivemos numa zona de fronteira».
Soluções para as empresas
Em Vilar Formoso, o proprietário do supermercado Ecomarché local garante que, por enquanto, vai «manter os produtos à taxa de IVA mais baixa». Francisco Andrade não acredita que a população passe a comprar mais em Espanha após a subida deste imposto. «Aqui, há muitos bens de primeira necessidade que estão taxados a 6 por cento, enquanto em Espanha são a 8», afirmou. Uma possível “fuga” dos portugueses para o país vizinho, com o objectivo de adquirir artigos mais baratos, também não assusta o presidente da Associação Empresarial da Região da Guarda (NERGA). Pedro Tavares não acredita que «os guardenses passem a ir de propósito ao país vizinho para comprar bens de primeira necessidade». O presidente do NERGA entende que, apesar da conjuntura ser negativa, «as empresas não devem baixar os braços». Já o presidente da Associação Comercial da Guarda acredita que a solução passa por «recorrer a associações na área da consultadoria». «Sempre que uma empresa está em apuros, deve ser devidamente aconselhada». Paulo Manuel acredita que hoje em dia «é fundamental estar presente nas redes sociais, melhorar o atendimento, apostar no marketing e na consultadoria».
Imposto com crescimento acelerado
O Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) tem registado um crescimento acelerado desde que foi estabelecido em Portugal há 25 anos, com o objectivo de harmonizar a tributação ao consumo e preparar a entrada da economia portuguesa no mercado comum europeu.
Aquando da sua entrada em vigor, em 1986, a taxa normal do IVA situava-se nos 16 por cento e a taxa reduzida nos 8 por cento. Em 1988, e por decisão do Governo do então primeiro-ministro, Cavaco Silva, o IVA aumentou para 17 por cento, mas a taxa reduzida manteve-se inalterada. Quatro anos depois, e até 1994, o imposto sobre o consumo regressou ao valor inicial de 16 por cento e caiu 3 pontos percentuais na taxa reduzida, passando para os 5 por cento, sendo que o valor desta última se manteve inalterado até 2008.
Catarina Pinto