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Audiofiili #4

Opinião – Ovo de Colombo

O ano já vai a meio e para começar da melhor forma que tal falarmos de música ajustada ao Verão? O norueguês Todd Terje editou em abril a sua estreia nas longas durações com “It’s Album Time”. Este álbum não é nada mais do que uma compilação daquilo que Terje tem lançado em EP’s e singles ao longo dos últimos anos como DJ, dando-se ainda ao luxo de deixar de parte alguns êxitos como “Lanzarote”, uma colaboração com o também norueguês Lindstrøm, fora do disco.

“It’s Album Time” é um disco que merece ser dissecado de uma ponta a outra de tão brilhante que é. Terje é uma máquina do tempo da electrónica de hoje, transportando-nos para o auge do disco nos anos 70/80 e isso é mel. Recomenda-se essencialmente “Svensk Sås”, “Strandbar” e “Inspector Norse”, que recebe finalmente o reconhecimento devido. Se há música que merece ser ouvida neste Verão é “Inspector Norse”.

Seguidamente passamos para os canadianos Ought que viram o seu “More Than Any Other Day” ser editado pela Constellation Records. Os Ought, num estilo punk lo-fi, apresentam uma dezena de influências musicais que vão desde os Sonic Youth aos Television passando pelos Yo La Tengo. No fundo, ouvir este “More Than Any Other Day” é ouvir um resumo de história musical moderna em 46min: décadas de qualidade musical destilada para 8 músicas das quais se recomendam “Pleasent Heart”, “The Weather Song”, “Gemini” e a fantástica “Today More Than Any Other Day”.

E, finalmente, chegamos ao que realmente interessa. No mundo da música, é normal vermos bandas cujo melhor produto seja o primeiro álbum. O grande desafio está em ver como as pessoas envelhecem e como vão mudando a atitude que têm para com a música. Michael Gira e os seus Swans, já com 32 anos de carreira, vão-se inventando à medida que o tempo passa. E felizmente para quem gosta de música, os Swans vão amadurecendo uma sonoridade densa, caótica, progressiva, experimental, “avant-garde” e nada convencional que culmina naquilo que é, para mim, o melhor álbum de 2014 até agora.

Falo de “To Be Kind”, editado pela Young God Records do próprio Michael Gira. “To Be Kind” é quase como que uma continuação lógica do fantástico “The Seer”, de 2012. Os caracteres já me faltam e ainda não consegui descrever a enormidade (literalmente, porque o disco tem duas horas de música) e a monstruosidade deste álbum. É impossível, se não errado, destacar faixas pontualmente. “To Be Kind” é para ser degustado como uma experiência sensorial e não como uma companhia sonora para actividades mundanas. No fundo é isto.

João Gonçalves

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