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Atitudes anti-desportivas

Foi em vão que os responsáveis federativos tentaram passar a esponja sobre os acontecimentos de Clermont-Ferrand. As imagens falaram mais alto e no espírito de todos ficou a ideia de que os festejos do apuramento passaram das marcas. Tudo sujo, partido, conspurcado. E como uma imagem vale mais do que mil palavras, não houve forma de dar a volta ao texto. Depois da excelente exibição, principalmente na primeira parte do jogo, a noticia dos estragos não poderia ter um carácter mais demolidor. E se é verdade que os Franceses tentaram tirar o máximo de dividendos da situação, tendo pintado o cenário o mais negro possível, não é menos verdade que a reportagem evidenciava actos de vandalismo a todos os níveis deplorável.

As atitudes dos nossos jogadores não são um episódio isolado. Na memória de todos ainda estão bem vivas as imagens do Euro2000 e do Mundial da Coreia. A falta de princípios e de condutas adequadas à situação aparece quase como um denominador comum das representações nacionais em eventos desportivos de grande nível e mediatização. E isso começa a ser preocupante. Tenho para mim que os actos de falta de ética e conduta desportiva estão ancorados numa realidade mais vasta que é a falta de educação e de civismo. Nós, professores, somos testemunhas privilegiadas desta falta de atitudes adequadas. E o mais grave é que apesar de se tentar por todos meios contrariar as atitudes dos alunos, os esforços revelam-se muitas vezes infrutíferos. Os valores da sociedade e do meio que rodeiam o aluno são a maioria das vezes mais fortes.

No campo do treino e do rendimento as coisas passam-se um pouco diferentes. Como o objectivo principal é ganhar há muitas vezes a tendência para agravar os comportamentos, já de si desaconselháveis. A agressividade, sem dúvida um factor importante para o rendimento desportivo em vez de ser regulada e gerida da melhor forma, muitas vezes extravasa e passa os limites. Quem estiver um pouco atento ao que se passa no meio desportivo, não é raro ouvir da boca dos responsáveis técnicos palavras que incentivam ao comportamento antidesportivo: “deita-o abaixo” corta-lhe as pernas” “vai-lhe ao osso” são só algumas das expressões que o leitor poderá ouvir no caso de assistir a um jogo e tiver a sorte (ou azar)de ficar bem perto do banco dos suplentes.

A alteração das mentalidades e dos comportamentos de base não é tão rápida quanto seria desejável mas mesmo assim é necessária. Não digo que se tomem medidas exemplares, que por terem um carácter de excepcionalidade, são por isso mesmo injustas, mas que se estabeleçam códigos de conduta desportiva e que se cumpram as sanções disciplinares de forma ordinária. Não sei se foi o que aconteceu com o recente castigo aplicado ao jogador Deco do FCP, mas se foi acho justo, aliás é um jogador que deveria ser chamado à atenção pelas constantes fitas que faz tentando enganar o árbitro, simulando faltas, tropeçando nas próprias pernas, como aconteceu por diversas vezes no recente Boavista-FCP.

Por: Fernando Badana

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